Existe uma antiga fábula publicada no livro A Águia e a Galinha, que fora escrito pelo Teólogo Leonardo Boff, que narra a historinha de um naturalista que após inúmeras tentativas, consegue fazer com que uma águia descubra sua real capacidade de realizações, pois antes disso, a mesma desconhecia totalmente essas capacidades, devido ter sido criada desde filhote na condição de galinha por um fazendeiro, então ela sempre acreditou e agiu como tal, ou seja, em sua mente e em seu contexto ela só sabia ser galinha, portanto, não voava, não caçava e sempre viveu dentro de um galinheiro ciscando e comendo milho.
Esse exemplo ilustra com bastante simplicidade, a capacidade de facilitar a evolução de um indivíduo, para que o mesmo consiga desenvolver e alcançar suas metas de resultados (individuais ou numa equipe). E essa capacidade de facilitação, é uma característica vital para os líderes dentro das organizações que almejam estar no estado descrito por Peter Senge como “A empresa que aprende”.
Porém conforme mostra a fábula da Águia e a Galinha, fazer com que as pessoas descubram seus potenciais, pode ser enormemente difícil e desafiador, pois a grande maioria de nós está condicionada pela sociedade apenas para ter resultados medianos e fazer apenas coisas específicas de seus mundinhos, fazendo com que muitas vezes, sejamos verdadeiros “imbecis especializados” conforme narra Domenico De Masi em seu livro o Ócio Criativo.
Essa facilitação da autodescoberta de potenciais é o cerne que sustenta as atividades de uma figura muito comum atualmente: O Coach, que muitas vezes é lembrado como um técnico ou treinador de alguma equipe, porém, comumente as pessoas desconhecem o real significado de ser um Coach para um time ou para um indivíduo.
Portanto, é crucial lembrar que a palavra Coach, devido a sua etimologia, significa algo como: “Veículo (meio) para o transporte de pessoas”, ou seja, por natureza, um Coach é o meio que facilita as pessoas a alcançarem seus objetivos.
Claro que existe atualmente, uma gama de técnicas e mantras organizacionais para desenvolver nossa habilidade para a facilitação ou Coach em nossas organizações e para ilustrar isso, cito abaixo algumas dessas habilidades e técnicas primordiais para um bom Coach:
- Fazer o estímulo e manutenção da confiança;
- Disseminar o compartilhamento de idéias através da cooptação ao ecossistema em questão;
- Aplicação de técnicas para facilitar a comunicação, principalmente almejando a remoção dos ruídos nos diferentes canais nas organizações;
- Promover o estado de aprendizado contínuo nas pessoas (inclusive em você mesmo!)
- Estimular a melhoria contínua nos indivíduos recebedores e fornecedores do Coach;
- Desenvolver o comprometimento com as metas em todos os indivíduos do grupo;
- Ter capacidade para escalar resultados através da formação de multiplicadores do Coaching, ou seja, o famoso Coaching dos Coaches;
- Identificar e ter meios que facilitem a remoção de impedimentos e conflitos;
- Manter o constante feedback de resultados em todos os níveis de necessidade;
- Criar quando necessário, o espírito de auto-organização nas equipes;
- Fomentar a constante motivação do grupo;
- Reconhecer e desconstruir os mecanismos de defesas em quem recebe o Coach;
- Ter meios (técnicos, cognitivos, ou lúdicos) para alavancar os conhecimentos e experiências;
Porém, acima de todas essas habilidades supracitadas, algumas experiências positivas dentro das organizações, me fazem acreditar que todos nós temos a capacidade de sermos ótimos Coaches, pois pela a natureza humana e pela própria necessidade de evolução da nossa espécie, obrigatoriamente exercitamos a ato de receber ou fornecer Coach. Por exemplo: Sabia que o primeiro Coach que você recebeu em sua vida, foi feito pelos seus pais? Pois eles de maneira mais paciente possível, lhe mostraram e incentivaram a descobrir que você podia aprender a andar, falar, pensar, crescer, etc.
E sabe o que é melhor disso, você um dia também fornecerá (ou já forneceu) esse Coach para alguém, ou seja, todos nós temos a capacidade natural de ser Coach/Facilitador, só precisamos exercitar e desenvolvê-la noutras áreas de nossas vidas, por exemplo: em nossas organizações, dentro de nossas equipes ou dentro de nossos projetos. Portanto, espero que esse breve texto, lhe ajude a visualizar essa sua capacidade e lhe estimule a aplicá-la também em suas relações de trabalho, sejam elas de qualquer tipo. Obrigado e até a próxima.
Referências
SENGE, Peter M. - Livro: A Quinta Disciplina.
DE MASI, Domenico - Livro: O ócio criativo.
GOLDSMITH, Marshall - Livro: Coaching: o Exercício da Liderança
BOFF, Leonardo - Livro: A Águia e a Galinha: Uma metáfora da condição humana
MEDEIROS, Manoel Pimentel - Artigo: Vencendo o Estado de Negação na Sprint Retrospective (Blog Visão Ágil)
Sobre o Autor
Manoel Pimentel Medeiros, CSP - É Engenheiro de Software, com 15 anos na área de TI, atualmente trabalha como Coach em Agile, Lean e TOC para empresas do segmento de serviço, financeiro e bancário. É Diretor Editorial da Revista Visão Ágil e Editor Chefe da InfoQ Brasil, Já escreveu sobre agile para importantes portais e revistas do Brasil e exterior e Também palestrou em eventos nacionais e internacionais sobre agilidade. Possui as certificações CSM e CSP da Scrum Alliance e foi um dos pioneiros na utilização e divulgação de métodos ágeis no Brasil. Contatos: manoel@visaoagil.com | |