Da mesma forma que as pessoas precisam constantemente acompanhar e avaliar seu estado de saúde, os sinais vitais de projetos precisam ser monitorados, desde o início. A análise e a monitoração dos principais indicadores da saúde de um projeto ganham interpretações e prioridades diferentes nos projetos ágeis, que focam principalmente em transparência, visibilidade, simplicidade e medidas quantitativas.
Com pessoas, quando algum problema começa a aparecer, o médico diagnostica e receita intervenções em busca da reestabilização do paciente, analisando alguns indicadores importantes como pressão arterial e temperatura.
Medindo a equipe
Nos projetos ditos tradicionais, geridos com práticas do guia PMBoK por exemplo, o foco se concentra primordialmente em quatro indicadores: escopo, prazo, custos e qualidade. Já em projetos que utilizam as práticas e a filosofia Agile, entretanto, a equipe aparece como um indicador de peso e ganha destaque sobre os demais. Isso vem do próprio Manifesto Ágil no que diz respeito a focar mais nos "indivíduos e interações" que em "processos e ferramentas".
A medida do indicador da equipe deve refletir o nível de satisfação dos membros e se cada um está motivado e confiante sobre as entregas do projeto ou se atenderá as expectativas do cliente. Essa medida deve ser coletada com frequência determinada, ser transparente a todos e ser mostrada até mesmo no quadro do time. A partir das notas atribuídas pelo time (de 1 a 5, por exemplo), pode-se elaborar um gráfico e acompanhá-lo a cada iteração.
Sobre esse assunto, vale a pena a leitura de dois excelentes artigos (títulos traduzidos): "A porta da felicidade, outro excelente método de feedback", de Jurgen Appelo e "A métrica da felicidade - a onda do futuro", de Jeff Sutherland.
Escopo, tempo e orçamento
Para os demais indicadores, como escopo, custos, prazos e qualidade, algumas modificações na forma de coleta e avaliação se fazem necessárias, a fim de tornar o processo mais simples e transparente para os projetos ágeis.
Para acompanhamento do escopo, por exemplo, um Scope Burn-Up, que rastreia o escopo e prazo para exibir a data de entrega prevista (ou Diagrama de Fluxo Cumulativo) traz informações valiosas e consolidadas de fácil interpretação. Ele retrata a saúde do projeto de acordo com o ciclo de desenvolvimento ágil, que vai desde a concepção de uma história (estado de preparação) até o momento em que ela é efetivamente implantada em produção (released). Veja o gráfico abaixo, extraído da ferramenta Rally (projeto interno da empresa onde trabalho):
Da análise do Scope Burn-up é possível avaliar, por exemplo, se a taxa de histórias aceitas (Accepted) acompanha o crescimento de histórias completas (Completed), o que pode indicar um risco de possível retrabalho, caso as histórias completas não sejam aceitas com a mesma velocidade com que são concluídas. Outra análise que é possível fazer deste gráfico é o grau de maturidade das histórias no tempo, pode-se ter um sinal de alerta caso existam muitas histórias não definidas aproximando-se da data final do release.
Em se tratando de tempo e duração do projeto, o Release Burndown pode ser empregado, pois apresenta um panorama geral da situação do projeto em relação ao prazo e a tendência, de acordo com os dados reais e previstos.
Munido destas informações é possível antever atrasos nas datas e períodos acordados, trazendo a necessidade de investigação da causa raiz, e eventual negociação e colaboração com o cliente sobre o andamento do projeto.
Já para o acompanhar e tratar os desvios no orçamento do projeto, faz-se uso de um Budget Burn-Down. O gráfico abaixo demonstra o estado do orçamento de um projeto em relação ao escopo entregue. Ele exibe gradativamente o que é consumido do orçamento original dentro de um período estipulado e compara com o que foi planejado.
Mas somente esta análise pode não trazer todo contexto e expectativa de valor das entregas e do avanço do projeto. A sugestão é também acompanhar o valor de negócio do conjunto de histórias entregues e medi-las a cada iteração.
Por exemplo, após a entrega da funcionalidade, que permite ao usuário votar e comentar em um estabelecimento, qual será o índice de crescimento de audiência previsto naquele site? Quanto isso vale para o cliente e o quanto está aderente aos objetivos principais do projeto? Outro exemplo: após a unificação do envio de SMS para todas as operadoras, qual será a redução do tempo no uso da ferramenta? Qual o valor percebido desta funcionalidade em comparação com as demais?
A ideia consiste em classificar cada história por critérios estabelecidos e selecionados pelo Product Owner (exemplo de um critério: agilidade na publicação de um conteúdo em um sistema CMS), pontuando-os por meio de notas (exemplo: 0 a 5), sendo que cada critério tem um peso balanceado e comparado entre os demais. O resultado é a somatória dos produtos das notas de cada critério pelos pesos atribuídos a eles. Portanto, em uma iteração, tem-se esse resultado em pontos de valor de negócio, possibilitando assim o acompanhamento do valor entregue ao cliente a cada iteração.
Qualidade e dívida técnica
Para monitorar a qualidade do produto, por fim, é importante manter sempre visível para o time a quantidade de bugs abertos e traçar metas para a redução destes bugs. Uma meta que algumas empresas adotam é finalizar o sprint sem bugs ou a política de "bugs zero", em que uma história só é considerada finalizada se não possuir bugs associados.
Em alguns cenários estas metas podem ser especialmente difíceis de serem alcançadas. É possível nestes casos trabalhar com a severidade dos bugs e tratar os de menor severidade em outro momento (fora do sprint atual). Existem situações em que alguns bugs são até aceitos pelo cliente, pois não comprometem totalmente a utilização do produto final por parte dos usuários e para os quais o custo-benefício de sua correção não valeria a pena.
Da mesma forma que os bugs, as dívidas técnicas também podem assombrar um projeto e precisam de monitoração constante. Um gráfico visível do número de dívidas técnicas por sprint pode dar uma boa visão sobre tendências e gerar ações pontuais de refatoração quando essas dívidas não estiverem diminuindo naturalmente.
O tratamento da qualidade é bastante discutido e vale analisar os principais fatores de qualidade que sua empresa e clientes adotam a fim de determinar os melhores indicadores.
Conclusões
Neste breve artigo, vimos alguns exemplos de indicadores dos sinais vitais e sua forma de consolidação em projetos ágeis. Os indicadores geralmente são mais efetivos, se mostrados em gráficos claros, disponibillizados para toda a equipe, preferencialmente no quadro onde são realizadas as reuniões diárias. Ajudam a criar um ambiente mais transparente, com metas claras e uma noção global do progresso da equipe.
E você? Quais indicadores utiliza para acompanhar a saúde dos seus projetos?