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Running Lean: Entrevista com Ash Maurya - Guru do Lean Startup

Ash Maurya, fundador do Spark59 e especialista em Lean Startup, reconhecido mundialmente, veio pela primeira vez ao Brasil para apresentar seu recém-lançado livro Running Lean. Em workshop realizado em São Paulo pela Concrete Solutions, Maurya falou ao InfoQ Brasil sobre o Lean Canvas, Lean Startup e outras práticas propostas em seu livro.

A técnica Running Lean busca integrar os conceitos de Lean Startup e o Desenvolvimento de Clientes (Customer Development, criado por Steve Blank). Em seus estudos, Maurya idealizou o Lean Canvas que é um painel adaptado do Business Model Canvas com foco no desenvolvimento de startups (veja um exemplo na imagem abaixo).

 Lean Canvas

A sustentação principal do conceito do Running Lean é o Lean Startup, que foi criado pelo norte-americano Eric Ries e que resumidamente procura dar subsídios para a criação de startups que evitem desperdícios de tempo através de ciclos de aprendizado rápidos.

Veja abaixo a entrevista, concedida a Rafael Buzon e Paulo Rebelo, em São Paulo.

InfoQ Brasil: Qual seria a principal diferença, em poucas palavras, entre o Business Model Canvas e o Lean Canvas?

Ash Maurya: Os propósitos são diferentes, sim, pois o Business Model Canvas de Alex Osterwalder é bem adequado à empresas já constituídas. A finalidade principal do BMC é construir um novo modelo de negócio a partir de um contexto já conhecido. O propósito do Lean Canvas, ao contrário, é auxiliar uma empresa a descobrir o melhor produto a ser construído com base no aprendizado e nos testes contínuos. O Lean Canvas tem foco em ambientes de total incerteza, enquanto o Business Model Canvas parte de um contexto mais bem conhecido e de um produto mais concreto como alvo.

InfoQ Brasil: Seria possível aplicar os conceitos de Running Lean juntamente com Scrum? Criar, por exemplo, "histórias de aprendizado" e aplicar Sprints?

MauryaCertamente. Muitas pessoas comparam os métodos ágeis com o Lean, mas um não é concorrente do outro. O Lean é como um método ágil para os negócios. Existem muitas semelhanças entre esses conceitos: assim como em Agile, utilizamos o quadro de tarefas inspirado no Kanban, além de iterações; rodamos os experimentos em timeboxes; temos reuniões diárias e semanais e priorizarmos os experimentos no início de cada semana, com base nas métricas-chave e no grau de risco de cada experimento, sendo priorizados os de maior risco. Temos também uma definição de pronto: o aprendizado com o cliente.

InfoQ Brasil: Você acredita que podemos adotar os conceitos do Running Lean em empresas de médio e grande porte? Ou seria uma mudança radical de cultura?

MauryaÉ muito difícil aplicar os conceitos do Running Lean em empresas com muitas áreas especializadas, com grandes equipes, separadas em funções como desenvolvimento, operações e suporte aos clientes. Acredito que o conceito que apresento no livro funcione melhor em equipes menores e multidisciplinares, que têm mais autonomia para experimentações no desenvolvimento do produto em que estão atuando.

InfoQ Brasil: Em empresas 100% "Running Lean", qual seria a formação adequada da equipe de TI? Você acredita nos três papéis do Scrum?

MauryaNa minha empresa, por exemplo, não temos cargos como desenvolvedor, designer, ScrumMaster ou outro papel deste tipo. Temos apenas cientistas e "experimentalistas". Eu, como líder da empresa, estabeleço claramente as métricas-chave que visam, basicamente, a obter mais clientes ou reter clientes. Todos são responsáveis por criar valor de negócio, medir e capturar esse valor através dos experimentos. Esse modelo também é utilizado no Facebook e se baseia essencialmente em equipes auto-organizadas.

Pessoalmente também gosto muito do Kanban, pois elimina as limitações dos sprints. Nenhum dos nossos experimentos tem um timebox fixo predefinido. As iterações podem levar algumas horas, alguns dias ou mesmo semanas. Procuramos seguir o conceito de implantação contínua, lançando um experimento de valor assim que concluído.

InfoQ Brasil: Onde os conceitos do Running Lean não seriam aplicáveis?

MauryaO Running Lean não lhe ajudaria muito em problemas cuja solução não exija uma investigação ou experimentação aprofundada com os potenciais clientes.

InfoQ Brasil: Qual seria uma pergunta interessante a ser feita sobre Running Lean? E qual seria a resposta?

MauryaAs pessoas que participam dos workshops e palestras que ministro saem entusiasmadas com os conceitos e práticas aprendidas, mas geralmente acabam mantendo os velhos hábitos. Uma pergunta interessante seria, De que forma evitar que o Running Lean seja apenas um modismo? Um pouco da resposta está em efetivamente iniciar a aplicação dos conceitos. Os praticantes com os quais converso comentam que se esforçaram muito para "entrar em campo" e aplicar as práticas do Running Lean, mas, uma vez que experimentaram e viram os benefícios das práticas, não fazem mais produtos sem usar essas práticas.


Para conhecer mais sobre o movimento Lean Startup, a referência oficial é o site mantido por Eric Ries. O InfoQ Brasil publicou dois artigos sobre o Business Model Canvas aqui e aqui; pode-se testar o BMC, através de deste template. E para conhecer mais sobre o Running Lean, Ash Maurya disponibiliza um PDF com uma visão geral das técnicas.

 

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