Um assunto bastante recorrente e polêmico no cenário atual das empresas de TI, diz respeito à importância das certificações para os profissionais da área.
Após anos de experiência no mercado, e através de diversas discussões, como este post do Lucas Souza, pode-se concluir que tanto as opiniões a favor, quanto as que se posicionam contra certificações, possuem argumentos bastante fortes e plausíveis. Assim, seguem abaixo relacionados diversos pontos que frequentemente afloram nas discussões, algumas vezes gerando divergências, e em outras até chegando num consenso geral.
O valor da experiência
Se há um tema no qual quaisquer profissionais tendem a concordar sempre, é o valor da experiência. É de comum acordo que o processo de obtenção de uma certificação não envolve a avaliação da experiência prática do candidato, ficando restrita apenas à aplicação de conceitos e assuntos bastante pontuais e específicos, que geralmente são exaustivamente estudados dias antes das provas específicas de obtenção dos certificados.
A experiência prática oferece aos candidatos à certificação uma grande vantagem, pois os prepara para eventuais "pegadinhas" e problemas complexos que possam ser apresentados, e é justamente aí que entra em cena a maior crítica daqueles que são contrários à certificação, como Uncle Bob Martin, que neste post afirma:
A maior parte dos programas de certificação prova pouco mais além do fato do "desenvolvedor" ter pago por um curso de 3 a 5 dias.
Desta forma, a experiência entra apenas como um fator adicional, porém não decisivo ou fundamental, no processo de obtenção de certificações.
Neste sentido, Cesar Brod afirma em seu post para o Dicas-l que:
[...] certificação não é, em si, atestado ou substituto de competência e histórico profissional. Quem de nós nunca teve aquele colega que era o máximo em provas e um zero em execução? O profissional (ou empresa) que consegue apresentar um bom currículo, com boas referências também não deveria ser preterido pela exigência de uma certificação formal.
Confiabilidade no processo de certificação
Em continuidade ao que foi exposto anteriormente, torna-se inevitável o questionamento quanto ao processo de certificação. Afinal de contas, se o foco principal é preparar o candidato para a prova, fazendo-o decorar e treinar à exaustão tópicos, problemas e tendências bastante específicos e recorrentes neste tipo de prova, onde entra a verificação do preparo do candidato para eventualidades e imprevisibilidades, tão corriqueiras no mercado de trabalho?
Ainda deve-se considerar o fato de que, por se tratarem de seres humanos, candidatos extremamente competentes e capazes podem eventualmente estar num momento difícil, que pode interferir negativamente no seu desempenho teórico nas provas, mas não necessariamente irá interferir em suas aptidões, instintos, noções de ética, bom senso, etc.
Neste ponto chega-se num assunto que geralmente tende a um comum acordo, no sentido de que muitos dos processos de obtenção de certificações poderiam ser revistos, passando a verificar não apenas se o candidato é capaz de passar numa prova específica, mas também aplicando uma série de avaliações, num determinado período de tempo, cujo enfoque principal seria analisar o candidato quando este fosse colocado diante de situações baseadas em casos reais e práticos. Esta análise teria como objetivo não apenas validar conceitos e conhecimentos teóricos, mas sim a resposta, reação e conduta do candidato, quando colocado em situações que ele inevitavelmente enfrentará após ter obtido uma certificação de TI.
Para que tornar-se um profissional certificado
Vejamos a seguinte afirmação de Uncle Bob, ainda no mesmo post citado anteriormente:
[...] certamente existem homens de lata que precisam de coração, leões que precisam de coragem, espantalhos que precisam de cérebro, e desenvolvedores que precisam de auto-estima. Uma nova certificação certamente ajudará estes desenvolvedores sem brio.
Desta forma, as certificações podem assumir um papel muito importante no sentido de reforçar a auto-estima de profissionais que podem ser extremamente capazes, mas inseguros de seu próprio conhecimento diante de um mercado cada vez mais competitivo, dinâmico e exigente.
Cesar Brod defende com bastante coerência a hipótese de que as certificações sérias são importantes no mercado como um todo, mas ainda há muito o que evoluir neste sentido. Veja as colocações dele a respeito da necessidade ou não de se obter certificações:
A resposta simples para tal questão é SIM. A certificação séria é geradora de renda e impulsiona o desenvolvimento. Muitas empresas de software proprietário e algumas em software livre já possuem processos de certificação em seus produtos e serviços, além do excelente exemplo do LPI - Linux Professional Institute, organização sem fins lucrativos que certifica profissionais Linux através de provas de baixo custo. E ainda é pouco!
Sobre o posicionamento das empresas em relação às certificações de TI, Brod diz ainda:
[...] do lado de quem contrata serviços é sempre mais fácil confiar em alguém que possua uma certificação reconhecida pelo mercado do que "testar" um profissional que pode, ou não, ser competente.
Ton Carvalho fez uma ótima observação ainda no mesmo tópico do Lucas Souza, afirmando que, atualmente nas empresas de TI, muitos recrutadores procuram profissionais certificados não apenas pelo conhecimento teórico que os mesmos possuem, mas principalmente para manter suas equipes com um nível homogêneo de conhecimento:
[...] quando temos um projeto em que há a necessidade de montar uma nova equipe, a exigência de certificação realmente não é um "atestado de super eficiência do programador" mas com certeza ajuda muito na hora de "NIVELAR" a nova equipe, se todos tem a certificação (xxx), quer dizer que todo mundo tem um nível mínimo de conhecimento...
Conclusão
É muito comum encontrar pessoas que estudam muito para conquistar certificações de TI e quando as obtém não sabem o que fazer, ou mesmo acham que irão conseguir imediatamente uma promoção, aumento ou um novo emprego. Isto ocorre talvez por uma falta de planejamento de carreira, traçar um objetivo a se conquistar num determinado período de tempo, etc.
Certificações de fato abrem portas em muitas empresas, aumentando a visibilidade do profissional no mercado de trabalho e ajudando no momento de buscar um aumento salarial.
Para representantes de empresas, buscar profissionais certificados de TI pode ajudar no sentido de construir equipes com um nível semelhante de bagagem teórica e conceitual, mas é neste momento que os recrutadores devem aplicar metodologias de avaliação que em geral as certificações de TI não se proprõe a fazer, como analisar o perfil do candidato frente a situações reais, com foco em suas reações e condutas.
Assim, seriam filtrados profissionais que buscam certificações apenas para ostentar o título e obter vantagens competitivas no mercado, mas sem de fato apresentarem competências básicas ao enfrentar os problemas do dia-a-dia das empresas.
Desta forma, através da análise de todos os diferentes pontos de vista apresentados, pode-se considerar que as possíveis abordagens do assunto são plausíveis e coerentes dentro de seus contextos específicos.
Ou seja, dependendo da política de determinada empresa, da necessidade de determinado executivo, ou dos objetivos e caminhos que um profissional almeja, temos um ou outro posicionamento que pode se mostrar adequado. Porém, deve-se sempre manter em foco a responsabilidade de se obter uma certificação, nunca acreditando que este objetivo alcançado anula a necessidade de saber se portar ante as adversidades, buscando sempre crescer, aprender e se aprimorar, não apenas em conhecimentos técnicos, mas também no lado humano das relações no dia-a-dia do mercado de trabalho. As cobranças virão, e é preciso saber responder a elas com qualidade e responsabilidade. Os benefícios são uma consequência natural.