Manoel Pimentel, já conhecido na comunidade ágil e editor-chefe da InfoQ, fez uma ótima apresentação sobre Facilitação e Coaching. Nesta apresentação ele não falou muito de processos, sprints e reuniões, mas sim, de pessoas. Segue um breve relato de sua apresentação.
Ele iniciou falando que muitos dos nossos problemas em um projeto ágil são originários da resistência das pessoas à mudança e da cultura da empresa. Dependendo da forma que iniciamos a adoção de agile, fazemos com que esta resistência se multiplique, criando um motivo para que ela exista. É interessante pensar que boa parte da resistência pode estar na equipe e não no cara de negócios. Afinal, a pessoa investiu muito da sua vida estudando e definindo um processo. De repente, chega uma pessoa e começa a criticar tudo o que ela aprendeu.
A equação não é simples
Normalmente tentamos somar definições de processo, definições de como as tarefas devem ser feitas, esperando que o software fique pronto ao final. Mas quando colocamos pessoas juntas, não sabemos o que pode acontecer. É aí que o coaching entra em cena. O coaching consiste em descobrir e desenvolver o potencial das pessoas.
Antes de falar mais sobre coaching, ele convidou os participantes a pensarem se eram uma águia ou uma galinha. Manoel contou sobre a história da águia e da galinha, baseada no livro do padre Leonardo Boff:
Era uma vez uma águia que foi criada como uma galinha. Alguém até tentou mostrar para ela que ela não era galinha, mas ela não mudava. Só depois de muito tempo ela começou a se comportar como uma águia. E o que isto tem a ver com coaching? Muitas pessoas estão condicionadas a trabalhar como galinhas. Em uma equipe, muitas vezes você encontrará este tipo de comportamento. Muitas vezes é necessário fazer com que a pessoa descubra que ela é mais do que uma galinha. E como fazemos isto? Através da facilitação.
Facilitação
Trabalhamos um conceito ou conhecimento que deva ser passado para alguém através de práticas lúdicas, que trabalhem a cognição, que dêem prazer a quem está participando, ajudando a Gestalt. Manoel disse para os presentes procurarem quantos objetos vermelhos encontravam na sala. Depois disso, aproveitando que as pessoas já tinham olhado por toda sala, disse para responderem sem pestanejar quantos objetos amarelos existiam. Obviamente ninguém sabia responder, afinal só procuramos por objetos vermelhos. Este exercício reforça o fato de que iremos encontrar pontos de falha ou pontos positivos em qualquer idéia que procurarmos.
Quem recebe o coaching é chamado de "coachee" e o "coach" fornece o coaching. Mas então o coaching é um guru? Tem respostas para tudo? Não, ele não tem respostas para tudo. Ele não ensina, ajuda você a descobrir os seus caminhos. O coach também não é terapeuta, não busca as causas da pessoa estar no estado atual. O coach trata da evolução profissional, trata do futuro. O coach não é consultor, ele mostra o caminho, ajuda a descobri-lo.
Por que funciona?
O coaching funciona porque foca no desenvolvimento da pessoa, servindo como uma espécie de espelho. A pessoa se sente observada, podendo despertar o efeito Hawthorne, quando a pessoa altera o comportamento quando está observada. Este efeito foi percebido pela primeira vez em um estudo em uma fábrica nos Estados Unidos em 1927.
Para ter sucesso em um processo de coaching é necessário ter um bom relacionamento. E o segredo para um bom relacionamento é a confiança. Quando trabalhamos de forma iterativa, criamos um mecanismo para que a confiança vá crescendo.
Mas o que um coaching precisa conhecer?
Da mesma forma que um relojoeiro conhece de relógios e um mecânico conhece motores, um coaching deve conhecer pessoas. E para conhecer mais de pessoas é necessário estudar psicologia, filosofia, sociologia e outras questões humanas. Um exercício interessante é praticar a janela de Johari para tentar descobrir como a pessoa se vê e como os outros a vêem. Esta é uma ferramenta a ser aplicada no processo da facilitação.
Ao iniciar um processo de coaching, temos que lidar com o principal mecanismo de defesa das pessoas, a negação da realidade. Isto acontece devido ao conflito entre o id, ego e super ego. É o confronto entre o que somos com o que realmente desejamos. É importante lembrar que o coach não julga! O coach é livre de julgamento.
O coaching é focado na rotina de foco, ação e melhoria. A cada sessão de coach fica um To-Do. O coachee que faz a lista de tarefas que serão feitas. Estas tarefas devem ser priorizadas pelo ROE (Retorno sobre Esforço). O coaching tem tudo a ver com Agile e Lean.
Em busca da melhoria
Pense em um problema de sua equipe de desenvolvimento. Analise as causas de seu problema, utilize a Teoria das Restrições para encontrar as reais causas de algo que o incomoda. Desta forma conseguimos encontrar qual o melhor caminho para a melhoria.
O coachee pode ser uma equipe ou um único membro.
Para começar, é necessário encontrar a sua missão, seu direcionamento. Poderíamos definir como missão caminhar em direção ao por-do-sol. Nunca iremos chegar lá, mas saberemos sempre para onde caminhar. Além de missão, é preciso ter ideal. E ideal não é definido, é descoberto.
Quando se fala de ideal e de missão, estamos falando de sonhos. Mas sonhos não se realizam, mas sim as metas. Para que possamos alcançar as metas é necessário motivação. A motivação é encontrada pelo prazer ou pela dor. E a melhor forma para motivar em torno da meta é perguntar: Qual a maior meta da sua vida? O que custa hoje não a ter realizado? O que você perderá quando alcança-la? Qual o seu sentimento se não realizar a meta. É importante se motivar pela dor, identificar ganhos e perdas.
É importante também identificar as crenças positivas e as crenças limitantes. Identificamos uma crenças positiva quando ao propor uma idéia a pessoa já responde : "Sim, e fazemos isso e aquilo...". Uma crença limitante é percebida quando a pessoa responde: "Sim, mas pode ser que... e ...", enxergando mais limitações que oportunidades.
Para terminar
Manoel Pimentel fez uma apresentação muito agradável e que tratou de um tema fundamental para adoção de metodos ágeis e que nem sempre é tão bem abordado como ele fez.