Em um novo post, Jason Bloomberg (respeitado analista e arquiteto da ZapThink) pergunta: "por que ninguém está fazendo arquitetura corporativa?". Bloomberg observa que:
Um arquiteto elabora a arquitetura de uma solução antes que seja implementada. Um arquiteto Java ou .NET faz seu trabalho antes da codificação. Não se constroi e depois se projeta. A arquitetura corporativa parte do princípio de que existe uma corporação. O papel desempenhado hoje pelo arquiteto corporativo é essencialmente corrigir problemas da empresa; não resolver todos os problemas, é claro, mas fazer melhorias reais. Ir do estado atual até um ponto em que há melhorias perceptíveis.
Segundo Bloomberg, embora resolver os problemas das empresas seja nobre e importante, isso não é arquitetura corporativa:
Arquitetura não se trata de resolver coisas, mas sim de estabelecer melhores práticas para projetá-las.
Na sua opinião, ninguém realmente faz a arquitetura de uma corporação. Empresas e suas arquiteturas apenas crescem, evoluem:
Empreendedores entendem essa questão fundamental. Quando se reúnem para elaborar o plano para um novo negócio, não têm a presunção de projetar algo do tamanho de uma grande corporação. Em vez disso, definem um plano para o crescimento, plantam a semente, irrigam; fazem um trabalho constante de adubação. E com um pouco de sorte, terão nas mãos uma empresa saudável e em crescimento, alguns anos depois. Mas sempre existe, é claro, a possibilidade de o resultado ser muito diferente do inicialmente planejado.
Bloomberg afirma que esse conceito – o de definir e estabelecer um conjunto de melhores práticas para atingir o objetivo final desejado – é muito diferente da arquitetura corporativa. A questão é que:
Crescer uma empresa presume que não há um estado final, da mesma forma que não existe um estado final para um organismo vivo. Uma semente de carvalho "sabe" que deve se tornar uma árvore de carvalho, mas não existe um plano específico para o carvalho em que se tornará. Pelo contrário, o DNA da semente fornece os parâmetros básicos para o crescimento; o resto fica por conta de características emergentes, e são essas características que definem os sistemas complexos. O crescimento das organizações apresenta um comportamento emergente, assim como acontece com os organismos vivos.
Bloomberg considera que não faz sentido rever os objetivos da disciplina de Arquitetura Corporativa, mas sim que se deve criar uma nova disciplina:
Talvez faça sentido considerar a arquitetura corporativa como o "estabelecimento de melhores práticas para soluções emergentes". Afinal, se podemos elaborar a arquitetura de sistemas tradicionais menores, porque não fazer isso para sistemas complexos? [...] Se pretendemos descobrir como fazer arquitetura corporativa, é preciso usar a abordagem adotada para a arquitetura de sistemas complexos. Mas ainda veremos, no entanto, se é possível fazer arquitetura corporativa dessa maneira.
Comentando o post do Bloomberg, JP Morgenthal (especialista em virtualização e cloud computing) diz que não são somente os princípios da arquitetura corporativa que criam problemas, mas também a terminologia adotada:
Talvez o melhor nome para arquitetura corporativa seja arquitetura multidimensional. Essa terminologia deixa clara a essência da atividade, sem prendê-la a um escopo determinado; o escopo pode ser amplo ou restrito, dependendo dos objetivos almejados. Organizações trabalham constantemente em arquiteturas multidimensionais. Projetam soluções que envolvem processos de negócio, fluxos de trabalho, aplicações, experiência do usuário, conectividade de rede, recuperação de falhas. Além disso, levam em consideração o impacto de cada aspecto específico de um sistema sobre o sistema como um todo. É isso, para mim, o que foi chamado de "arquitetura corporativa" quando o conceito foi (mal) concebido pela primeira vez.
Pode-se discutir se arquitetura corporativa é um termo adequado, mas mudar a terminologia agora, quando foi finalmente aceita, pode gerar mais confusão e polêmica. De acordo com o padrão IEEE 1471-2000 (Práticas recomendadas para a descrição da arquitetura de sistemas com uso intensivo de software):
Arquitetura é a organização fundamental de um sistema incorporada em seus componentes e nos relacionamentos com o ambiente e entre a cada parte do sistema, além dos princípios que orientam seu design e evolução.
Note que em nenhum momento esta definição sugere a existência de um estado final. A definição trata de princípios aplicados à evolução e ao crescimento do sistema, e fica muito próxima da definições propostas por ambos Bloomberg e Morgenthal. Além disso, reforça que melhorar e evoluir uma corporação, para que se alinhe aos princípios e práticas apropriados, é arquitetura corporativa.