Há exatamente duas semanas, morreu Eli Goldratt, criador da Teoria das Restrições (ToC). O primeiro e mais famoso livro de Eli foi The Goal (A Meta), que define a ToC. Seu legado continuará a influenciar indiretamente a comunidade Agile pela incorporação de suas ideias e técnicas que aplicamos todos os dias. Eli foi educado como físico, mas tinha um lado mais "suave", como mostra esta citação:
Sorrio e conto nos dedos: um, as pessoas são boas; dois, todo conflito pode ser removido. Três, toda situação, não importa o quanto pareça complexa inicialmente, é extremamente simples. Quatro, toda situação pode ser melhorada substancialmente; nem mesmo o céu é o limite. Cinco, todos podem alcançar uma vida completa. Seis, há sempre uma solução do tipo ganha-ganha. Preciso continar a contagem?
David J. Anderson, em sua reflexão sobre o falecimento, destaca a influência e a liderança de Eli como um novo tipo capitalista, que acreditava no desempenho nos negócios sem prejuízo para os trabalhadores..
Lembrarei de Eli Goldratt primeiramente como um homem caloroso, gentil, leal, confiável e respeitador, que se importou profundamente em como as pessoas trabalham juntas, enquanto mantêm a paixão pelo bom desempenho nos negócios. Eli nunca aprovou uma melhoria que fosse alcançada às custas dos trabalhadores e era visto como um capitalista muito social. Acredito que sua liderança nesse aspecto é exemplar e que será reconhecida como visionária e à frente de seu tempo.
No mesmo post, Anderson explica como o trabalho de Eli, e a oportunidade de David em participar da Organização de Certificação Internacional na Teoria das Restrições (TOCICO), influenciaram o que é conhecido hoje como Kanban para o desenvolvimento de software.
Fui convidado para o TOCICO, em que apresentei o caso de estudo XIT como uma implementação DBR. Esta foi a fundação do que conhecemos como Kanban (para desenvolvimento de software) e que evoluiu diretamente da minha experiência na escrita do meu primeiro livro.
Robin Dymond, também escreveu sobre Eli logo após sua morte. Robin explica como a Teoria das Restrições traz um conjunto de ferramentas de reflexão que complementam as práticas Lean e Agile:
Como gerente de desenvolvimento de software que já transitou do gerenciamento tradicional para o Scrum e o XP, acho que a ToC oferece um conjunto de ferramentas de reflexão para analisar nossa forma de trabalho. Estas ferramentas complementam Lean e Agile sem reduzir seu valor ou entrar em conflito com suas ideias. Por exemplo, a Teoria das Restrições fornece uma maneira de priorizar mudanças de processos usados nas ferramentas Lean ou impedimentos encontrados por times que usam Scrum. A ToC me fez pensar diferente; mudou minha perspectiva sobre sistemas, sobre o desenvolvimento de software e sobre o trabalho em geral. Como no pensamento Lean, a ToC melhora o pensamento sobre qualquer sistema e proporciona maior conhecimento sobre as propriedades naturais desses sistemas.
Citando apenas um exemplo sobre como a Teoria das Restrições influenciou Agile: Eli criou a Contabilidade de Ganhos (Throughput Accounting, ou TA), um Sistema ToC de Medição Financeira. A TA inspirou muitos profissionais no mundo da produção, trazendo o foco em eficácia no lugar da eficiência, além do perigo do estoque, como descrito pelo Instituto TOC-Lean:
Com a Contabilidade de Custos convencional, eficiências locais são todas importantes – mas esta mentalidade apenas leva a produção excessiva de estoque, que, como a Contabilidade de Ganhos (TA) demonstra claramente, não gera dinheiro para o negócio, já que produzir e estocar produtos custa dinheiro e amarra um fluxo de caixa valoroso.
Para aqueles da comunidade agile que procuram aprender mais sobre o trabalho de Eli, Kevin Rutherford, coach agile e programador XP, disponibiliza uma lista de seus quatro livros favoritos de Goldratt:
- The Goal (A Meta, na versão em português) — um romance, sobre um rapaz que tem três meses para salvar uma fábrica em falência. Aqui é onde tudo começa, e as ideias se aplicam em muitas diferentes situações em vários diferentes campos e indústrias do mercado. Eu incluiria este livro no Top 5 de todos que já li.
- It’s Not Luck (Não é Sorte) — outro romance, sequencia do livro A Meta. Fornece a introdução básica para as Ferramentas de Reflexão, mostrando como usá-las na análise de vários problemas de negócio.
- The Choice (A Escolha) — um manifesto, citado acima. Neste livro Goldratt “sobe no palanque” e apresenta seu manifesto para a felicidade através da lógica e raciocínio claro. Eu descordo da sua lógica em um momento de virada decisivo, mas a mensagem, em geral, é boa, forte e poderosa.
- The Race (A Corrida) — um livro de trabalho para aprender sobre fluxo usando a Teoria das Restrições. Este livro não é para os fracos de coração, embora felizmente não tenha equações diferenciais. Apesar de ter lido e entendido A Meta (The Goal), e aplicado as ideias em muitas organizações, A Corrida (The Race) me ensinou algumas novas profundas surpresas.
Eliyahu M. Goldratt, tem todos os seus principais livros traduzidos para português. A biografia oficial (em inglês) de Goldratt é publicada em um dos seus sites comerciais. Seu blog é outra fonte importante para conhecer as ideias deste que é considerado um dos "gurus dos negócios" das últimas décadas.