Muitas mudanças importantes aconteceram nas últimas semanas no ecossistema mobile. Primeiro, o Google comprou a Motorola Mobility, levando a questionamentos sobre se o Android continuará a ser um sistema aberto. Logo depois, a HP encerrou a producao do TouchPad, e depois decidiu produzir mais unidades. Para onde apontam estas notícias?
A compra da Motorola pelo Google pareceu, para muitos, estar muito mais relacionada com um conjunto de patentes do que com a habilidade de fabricação de hardware em si. A Motorola já foi líder na indústria de telecomunicações e criou muitos produtos inovadores (como o Motorola RAZR), além de comandar acordos importantes, como o que garantiu a habilidade do ROKR de sincronizar com o iTunes. Entretanto, o ritmo de inovação da empresa tem reduzido muito nos últimos anos.
Um dos maiores problemas, ocorrido em meados de 2000, foi a série de fracassos com o sistema operacional Symbian. Antes um dos destaques em celulares topo-de-linha, o Symbian sofreu mudanças constantes e divergentes, e houve diversas em volta do sistema entre Nokia, Sony Ericson e Motorola.
No final, logo depois que o iPhone foi lançado, a Motorola abandonou o Symbian, cortando 3 mil postos de trabalho, para se focar mais no Android. Entretanto, a empresa nunca mais reconquistou a fatia de mercado perdida, e já se discutia a possibilidade de vender sua divisão de celulares. Mas isto foi três anos antes de o Google finalmente comprá-la.
O fiasco do tablet TouchPad do HP começou quando o dispositivo recebeu uma sequência de avaliações medíocres. Menos de dois meses depois do lançamento, a HP anunciou que não produziria mais o tablet e autorizou um desconto radical, de 499 para 99 dólares. Com o sucesso surpreendente de vendas na nova faixa de preço, a HP decidiu produzir um novo lote do produto e pode voltar a produzí-lo, mas o futuro do tablet continua, em grande parte, incerto.
Com a compra da Palm pela HP, muitos tinham a esperança de ver o renascimento da empresa que criou os famosos handhelds. A HP levou, na aquisição, a plataforma WebOS, mas juntamente com o anúncio de descontinuação do TouchPad, anunciou que não fabricaria mais telefones e tablets com esse sistema operacional. A empresa afirmou, no entanto, que vai continuar o desenvolvimento do sistema operacional e encoraja outros fabricantes a utilizá-lo embarcado em dispositivos domésticos.
A compra de empresas móveis pode ser muito arriscada. Assim que uma empresa pequena e inovadora é comprada por uma gigante de tecnologia, argumentam muitos especialistas, ela perde sua agilidade e sua cultura (e em alguns casos os seus principais desenvolvedores). A Microsoft comprou a Danger Sidekick, que já foi a "queridinha" do mundo mobile, mas caiu em desgraça quando perdeu dados de clientes, e hoje está esquecida. A HP comprou a Palm (e a Compaq) e acaba de deixar para trás o mercado de hardware móvel. A Nokia, que já foi uma figura paterna para o Symbian, tornou-se um "padrasto" e agora esta apostando no Windows Phone para os seus dispositivos.
Pode-se argumentar que apenas duas empresas que entraram no mercado móvel na última década tiveram sucesso. Uma delas é o Google, com o sistema operacional Android (a outra, é claro, é a Apple). A empresa não tinha um departamento para produção de hardware, e com isso pôde se manter neutra em relação a seus parceiros por bastante tempo.
No entanto, a compra da Motorola pode mudar a imagem de neutralidade do Google, ou mesmo comprometer o relacionamento com os parceiros que utilizam o Android.
E quanto à RIM? O BlackBerry continua vendendo muito bem para empresas, e recentemente, a empresa canadense lançou o PlayBook, relativamente bem recebido; mas ainda tem um longo caminho pela frente. A compra (e o uso) pela RIM de um sistema operacional móvel forte como o QNX não é garantia de sucesso, como bem sabem os licenciados do Symbian. Além disso, a RIM está à margem do eixo Android/iOS no momento e pode sofrer um "momento HP" no futuro.
Visto tudo isso, uma coisa é certa. Ser um desenvolvedor móvel se tornou muito mais fácil, dado o menor número de plataformas relevantes a serem suportadas. E agora que todos os dispositivos do mercado suportam HTML5 e o framework WebKit, criar aplicações web móveis se tornou ainda mais simples.