Dan Mezick iniciou recentemente um debate na lista de discussões "Líderes do movimento Agile", sobre a necessidade de um Código de Ética para o coach de Agile. Dan escreveu:
Quando um cliente em potencial entra em contato para obter informações sobre coaching, normalmente tem pouca experiência e entendimento sobre Agile. Assim está em busca de uma orientação confiável. Entretanto, o coach deve gerar receitas para garantir o seu sustento. Isso pode tentá-lo, mesmo que de forma inconsciente, a gerar vínculos de dependência com o cliente. Surge nesse momento um grande potencial para disfunções, que podem rapidamente transformar-se em uma grave codependência. O cliente busca um perito que lhe diga o que "deve" ser feito, fazendo com que o coach efetivamente assuma uma postura mais autoritária e prescritiva. O coach se vê, então, em uma encruzilhada.
Ao que James Schiel respondeu:
Tenho uma forte tendência em acreditar no carma. Em outras palavras, não brinque com seus clientes, pois tudo o que se ganha financeiramente, perde-se posteriormente em credibilidade.
James O. Coplien não foi a favor da ideia:
Descobri que sistematizar a ética, como é feito pela American Bar Association, por exemplo, tem pouco ou nenhum efeito. No final, acho que a boa ética tende a cair no senso comum, com o propósito de eliminar os obstáculos para a transparência e criar um ambiente onde o diálogo aberto e produtivo tenha o seu espaço. Ou seja, se você já está vivenciando os valores ágeis, vejo um sistema ético muito mais na categoria de processos e ferramentas, em um contexto onde pessoas e interações devem predominar. A sistematização da ética também adiciona invariantes que contribuem para a inflexibilidade em um dos pontos onde um coach deve ser mais ágil.
Dan Mezick comparou o coaching em Agile a outras formas de coaching que estabeleceram padrões:
Os padrões éticos para a atividade de Coaching em geral estão bem estabelecidos e constituem uma base sólida. Estes padrões vêm da Federação Internacional de Coaches (ICF) e são usados por outros, como o Instituto de Treinamento de Coaches (CTI). A classe "ICFCodeOfEthics" pode ser usada como base para uma nova classe específica para o nosso contexto [...] Poderíamos denominá-la "AgileCoachingEthics". Não há nada nos padrões ICF que estabeleça o que deve ser feito. O trabalho de coaching depende apenas do que o "cliente quer".
Na maioria dos casos, os clientes não têm ideia do que realmente precisam e muitas vezes pedem "paliativos". O nosso trabalho é servi-los, independentemente disso.
James sinalizou que um sistema de ética estruturado pode trabalhar contra os princípios ágeis:
Lembre que a ética foi criada para ajudá-lo a agir quando a situação está muito difícil ou para quando você estiver muito atribulado para tomar a decisão "certa" (seja lá o que isso quer dizer). Isso vai contra o Agile, que tem tudo a ver com a transparência em apoiar o diálogo aberto, ao invés de adotar ações arbitrárias, estipuladas por um sistema ético.
Não digo isso à toa, mas como alguém que fez desses estudos parte da sua carreira. Há poucos princípios morais universais; vamos deixar a ética em paz. Acho que a única maneira de se estabelecer uma lista de éticas ágeis seja por decreto, e isso vai contra os princípios do Agile. Por isso, acho que tal esforço provavelmente irá se autoanular, não por falta de vontade ou desejo, mas devido à sua forma de elaboração.
Peter Stevens adicionou:
A Scrum Alliance possui um código de ética. Acredito que os Certified Scrum Coaches (CSCs) são obrigados a assinar o código, mas não tenho certeza (e tenho ainda menos certeza sobre os Certified Scrum Trainers (CSTs)).
Dan councluiu que:
Acredito que estamos fazendo bem em discutir um código específico para coaches de Agile. O coach é uma vocação distinta que tem pelo menos o potencial de trazer grandes benefícios ou prejudicar a organização do cliente. Há também implicações na forma como o Agile é de maneira geral percebido no mundo, porque os coaches Agile (em teoria) estão envolvidos na definição dos princípios e padrões de excelência dos métodos ágeis.
Gene Gendel encerrou a discussão dizendo:
Acho que esse tema é muito importante e devemos discuti-lo em detalhes. Como o papel do coach Agile é ainda relativamente novo, temos que reconhecer que ainda há vários aspectos onde melhorá-lo e a ética poderia ser muito bem um desses aspectos.
Ao atuar como coaches, nos é dado um grande poder para transformar o panorama da indústria, reestruturando organizações, afetando as relações humanas e potencialmente causando modificações no mercado de trabalho. Devemos ter a certeza, ao dar recomendações e prestar orientação aos nossos clientes, de sempre ter em mente os interesses primordiais deles e não conduzi-los para uma direção que nos favoreça.
Dan Mezick tem algumas ideias interessantes sobre o tópico postado em seu blog. Veja o seu post sobre Agilidade Autônoma bem como o seu texto "Épicos de histórias de usuários para ética no coaching".
Qual é a sua opinião? Coaches de Agile devem ter um código de ética?