Jim Coplien propõe em artigo recentemente publicado no blog de Jeff Sutherland, criador do Scrum, que grande parte do mercado tem adotado práticas de kanban a partir de um entendimento equivocado dos princípios da manufatura Lean. Para Coplien, a alternativa ao Kanban é o "fluxo contínuo de uma única peça".
Coplien, que é reconhecidamente uma autoridade no contexto de desenvolvimento software, sugere que o equívoco é causado por uma má interpretação do conceito Lean, que é geralmente visto pelo mercado como uma forma superficial de se aplicar as ferramentas do Sistema de Produção Toyota, sem que haja a efetiva adoção de seus princípios essenciais.
Sendo assim, a indústria de software teria se "apropriado indevidamente" da ferramenta (kanban), sem entender que os fundamentos do fluxo devem vir em primeiro lugar.
Em seu artigo, Coplien não realiza distinção objetiva entre os termos kanban (k minúsculo) e Kanban (K maiúsculo), sendo que este último é geralmente utilizado para referenciar o método de desenvolvimento criado por David Anderson. Coplien também não realiza menção ou crítica direta ao método de Anderson.
O autor contextualiza seu argumento através de uma citação extraída do livro Sistema de Produção Toyota:
Kanban é uma palavra japonesa que significa apenas sinal visual. O kanban é usado para controlar o trabalho que está em andamento, no contexto de uma linha de produção onde o fluxo já foi estabelecido.
Coplien, então, é mais enfático ao apontar aquilo que acredita ser o maior risco de se adotar a ferramenta kanban como metodologia:
O kanban (a metodologia) desencoraja o trabalho em equipe e aumenta o risco de não se completar o trabalho acordado dentro de um time-box, como um Sprint. Esta interpretação do kanban é atraente aos gestores, pois sentem a necessidade de recuperar o controle que haviam perdido com o Scrum, ou seja, uma maior facilidade para consertar as coisas paliativamente, ao invés de resolver a causa raiz dos problemas. Dá uma maior sensação de sucesso imediato sem ser necessário ponderar as consequências de longo prazo geradas por decisões de curto prazo.
Coplien sugere que o estabelecimento de um "fluxo contínuo de uma única peça" é uma solução verdadeiramente Lean, e indica que o Scrum possui todos os ingredientes necessários para o estabelecimento desse fluxo:
Em vez de depender de kanban, uma solução verdadeira Lean elimina "mura", "muri", e "muda" – termos que em japonês representam inconsistência, falta de fluxo contínuo e resíduos, respectivamente – em vez de monitorar o movimento e o processamento dos materiais. Uma boa implementação Scrum dispõe as equipes ou dispositivos que elaboram os artefatos em um mesmo local. Os fundamentos do Scrum encorajam a criação de um fluxo contínuo [...]
E prossegue:
Uma boa equipe Scrum se beneficia automaticamente das vantagens do kanban quando esta já pratica o fluxo contínuo. É inerente ao Scrum a limitação do trabalho em andamento, enquanto que o trabalho em equipe é encorajado. O Scrum, dessa forma, viabiliza, aos membros da equipe, uma autonomia de duração fixa para executar seus planos.
Por fim, Coplien afirma que "tal maturidade" pode servir como base para a adição posterior de técnicas como o kanban e que tanto sua própria experiência quanto a do criador da ferramenta kanban mostram que tais técnicas irão naufragar sem práticas similares ao Scrum, que primeiramente estabelecem a disciplina do fluxo.