Durante o Congresso Mundial de Tecnologia Móvel, que ocorreu no final de fevereiro em Barcelona, a Fundação Mozilla e a Telefonica anunciaram o Open Web Devices (OWD), uma plataforma para desenvolvimento de aplicações móveis inteiramente baseada em HTML5. A Telefonica pretende disponibilizar os primeiros dispositivos baseados na plataforma ainda em 2012.
O OWD é baseado no projeto B2G (Boot to Geko) da Fundação Mozilla. O B2G consiste de um kernel de Linux, com modificações do Android para suporte a dispositivos móveis baseados na arquitetura ARM. Em vez de iniciar serviços usuais de plataformas Unix, o B2G inicia um runtime do Geko, que é o mecanismo de renderização de HTML do Firefox. Todas as aplicações para o OWD serão aplicações HTML5, com lógica escrita em JavaScript. Não haverá aplicações "nativas" nesta plataforma.
Sobre o projeto do OWD, Carlos Domingo, Diretor para Inovação e Desenvolvimento de Produtos da unidade Telefonica Digital, afirma:
Eliminar alguns níveis de um sistema operacional tradicional permite à nova plataforma o uso em smartphones com menor poder de processamento e menor custo. Essa é a nossa maneira de levar smartphones para as massas em mercados emergentes.
Apesar de fazer uso de componentes originalmente desenvolvidos para o Android, o OWD não será dependente da plataforma móvel do Google; por exemplo não suporta o "stack" completo de APIs e tecnologias do Android (entre outrs coisas, não haverá o Dalvik). Os patches do Android estão sendo incorporados ao kernel oficial do Linux.
A iniciativa OWD é consistente com a missão da Fundação Mozilla, de promover padrões abertos para a web, não se limitando ao seu navegador para desktop. Outros projetos, por exemplo o PhoneGap/Cordova (ex-Apache Callback), vem tentando estabelecer o HTML5 como a base para o desenvolvimento móvel, no lugar do uso de APIs específicas de uma única plataforma.
Jay Sullivan, Vice-Presidente da Fundação Mozilla comenta:
Um SO verdadeiramente baseado na web, para telefones celulares e tablets, torna abre opções e oportunidades ilimitadas para usuários e desenvolvedores, tanto sob o ponto de vista de tecnologia quanto da perspectiva do ecossistema.
Como parte do OWD, a proposta do Mozilla Web APIs, inclui a definição de padrões de APIs JavaScript para acessar vários recursos de smartphones e tablets, como GPS, acelerômetro, SMS e câmera. Estas APIs beneficiariam qualquer navegador em qualquer plataforma móvel. Parte das bibliotecas da Web APIs já foram submetidos ao W3C, por exemplo a Device and Profile API. Também estará disponível o Mozilla Marketplace, que irá oferecer aplicações HTML5 para o OWD e demais plataformas que suportem as APIs.
Em um mercado cada vez polarizado entre o Google com o Android e a Apple com o iOS, e onde nomes de peso estão com sérias dificuldades em conquistar uma fatia expressiva de mercado (WebOS e Windows Phone), ou perdendo rapidamente a fatia que já tinham (Blackberry OS e Symbiam), o OWD parece ter melhores chances de sucesso, pois conta com o apoio de várias empresas com força no segmento. Deutsche Telecom, Adobe e Qualcomm estão juntas à Mozilla e Telefonica, alocando desenvolvedores em tempo integral ao projeto B2G, e a LG já divulga planos para produtos baseados no OWD. Especula-se o quanto isto seria uma reação à compra da Morotola pela Google, ou à pressão da Microsoft por royalties dos fabricanetes de smartphones Android.
Outra plataforma móvel está ressurgindo e conquistando o apoio de empresas depois de ser abandonada pela Nokia e considerada virtualmente morta. É o Tizen, sucessor do MeeGo, mantido pela Linux Foundation e patrocinado por Intel e Samsung (a Samsung está descontinuando seu próprio projeto de SO móvel, o Bada). A Huawei é outra empresa que está planejando produtos baseados no Tizen, que assim como o OWD, vai focar no desenvolvimento de aplicações em HTML5, diferentemente do que acontecia com o MeeGo, que usava APIs nativas baseadas no Gtk e Qt.