Por vários anos, o movimento ágil vem encorajando desenvolvedores a programarem em pares e equipes a trabalharem de forma colaborativa em ambientes abertos, mas recentemente estas práticas têm sido criticadas.
Em janeiro, a revista semanal "The New Yorker" publicou um artigo sobre brainstorming intitulado "Groupthink" (Pensamento em Grupo).
Brainstorming parece ser uma técnica ideal, uma forma natural de impulsionar a produtividade. No entanto, há um problema com esta técnica: ela não funciona.
Citando vários estudos, o artigo conclui:
A técnica de brainstorming não contribui para a manifestação do potencial do grupo, além de acabar tornando cada indivíduo menos criativo. Embora os resultados apresentados pelos estudos não tenham afetado a popularidade da técnica, estudos posteriores chegaram à mesma conclusão. Keith Sawyer, psicóloga na Universidade de Washington, resumiu: "Décadas de pesquisa têm mostrado de forma consistente que grupos de brainstorming produzem menos ideias que as geradas pelo mesmo número de pessoas trabalhando individualmente".
É claro que brainstorming não é uma técnica exclusiva das metodologias Ágeis e pode nem ser utilizada em algumas equipes ágeis, mas o que dizer sobre salas de desenvolvimento, trabalho em grupo e programação em pares?
Há pouco tempo, Susan Cain deu uma palestra no TED Talk, intitulada "The Power of Introverts" (O Poder dos Introvertidos), que acabou ficando muito popular. Sua palestra e o post em seu blog focaram a tendência em se valorizar pessoas extrovertidas e trabalho em grupo.
Solidão, segundo Cain, é uma chave para a criatividade. Darwin fazia longas caminhadas e recusou diversos convites para jantar. Dr. Seuss escrevia sozinho e evitava encontrar crianças que liam seus livros, por receio de que ficassem desapontadas com seu jeito quieto de ser. Steve Wozniak declarou que nunca teria se tornado um especialista, se tivesse deixado seu lar. É claro que a colaboração é positiva (Wozniak e Steve Jobs são provas disso), mas existe um poder transcendental na solidão.
O que temos aprendido com os psicólogos confirma este poder da solidão para a criatividade. Quando participamos de grupos, instintivamente procuramos reproduzir certos comportamentos de outros participantes, principalmente da pessoa mais carismática, mesmo não existindo relação entre ser um bom orador e ser uma fonte de grandes ideias.
Susan finaliza sua palestra convidando a plateia à ação:
"Acabem com a loucura do trabalho em grupo constante." Escritórios precisam de interações informais e espaços adequados para isso, mas precisamos também de mais privacidade e autonomia. O mesmo se aplica - e talvez de forma mais intensa - a escolas. Devemos ensinar crianças a trabalharem em conjunto, mas também a trabalharem sozinhas.
Jon Evans escreveu recentemente sobre programação em par em seu artigo no Tech Crunch, "Pair Programming Considered Harmful?" (Programação em Par é Considerada Prejudicial?)
Grandes desenvolvedores de software, como o San Francisco's Pivotal Labs e o Toronto's Xtreme Labs, adotaram uma abordagem 100% baseada em Programação em Pares, com considerável sucesso.
Ótimo! Problema resolvido, certo?
...Não tão rápido.
"Pesquisas sugerem fortemente que as pessoas são mais criativas quando estão livres de interrupções e em sua privacidade… Um artigo do New York Times, crítico à "forma de pensar em grupo", comenta que o diferencial dos programadores de companhias altamente produtivas não é o alto grau de experiência, nem o salário maior. O diferencial destes ótimos programadores é o quanto são livres de interrupções e o quanto possuem privacidade e espaço pessoal". O artigo também parafraseia Steve Wozniak:
"Trabalhe sozinho... Não em grupo. Não em uma equipe."
Escritórios planejados para serem espaços abertos, em particular, parece ser uma péssima ideia. "Layouts de espaços abertos favorecem a distração em massa, prejudicando a produtividade", de acordo com uma análise recente divulgada pelo U.K.'s Channel 4, do Reino Unido. A Hacker News também cita: "Muitos layouts de escritórios modernos parecem ser projetados para estragar a competividade entre pessoas e seu instinto criativo".
Jon ainda acrescenta algumas evidências de que o trabalho em pares pode ser bom para a criatividade:
Trabalhar sozinho é bom para a criatividade - mas o trabalho em par com alguém que pensa de modo diferente de você pode levar a um grau ainda mais alto de criatividade.
E conclui:
A resposta correta é que não existe uma única resposta; o que funciona melhor é uma combinação dinâmica de trabalho solitário, em par e em grupo, dependendo do contexto. A programação em pares definitivamente tem o seu valor. A aplicação da programação em pares pode acontecer "na maioria dos dias", mas insistir em uma abordagem 100% baseada em pares é uma ideia sem sentido, e como todas ideias sem sentido, é pouco produtiva.
Outro artigo, que aborda a forma como as redes sociais são voltadas para extrovertidos, critica as empresas por detrás destas redes:
Mark Zuckerberg, por exemplo, defende abertamente ambientes de trabalho abertos e paredes de vidro como uma metáfora para o mundo como ele sonhou. Este é um exemplo de como a natureza universal das redes sociais está penetrando na vida real - e esse é um problema para aqueles que gostam das paredes onde elas costumavam estar.
O movimento ágil deve ser criticado por popularizar as ideias de colaboração e interação? Tem sufocado os introvertidos e a criatividade por todos estes anos? Se sim, o que poderia ser feito? É a hora de voltarmos aos cubículos?