Vivek Wadhwa, colunista do The Washington Post, realizou uma série de viagens por países como a Índia, o Chile e o Brasil testemunhando uma evolução notável na cultura empresarial desses países nos últimos cinco anos. Wadhwa escreveu em seu artigo que os relacionamentos pessoais estão cada vez maiores, além do fato dos empreendedores terem se tornado mais abertos ao diálogo com outros empreendedores, citando:
Grupos de relacionamento estão surgindo, e os empreendedores estão se tornando mais abertos com seus pares. Um dos exemplos mais impressionantes que presenciei está em Campinas, cidade do interior de São Paulo.
Vivek Wadhwa comenta que em junho de 2010, nada menos que 10 startups que estavam incubadas na Softex Campinas, situada dentro da UNICAMP, resolveram cortar o cordão umbilical com a incubadora na qual estavam alojados e formaram um tipo de cooperativa de empreendedores chamada Associação Campinas Startups e Vivek Wadhwa acrescenta:
Ao invés de depender de empresários locais e professores para orientá-los, estes empreendedores decidiram aprender colaborativamente.
Wadhwa destaca que os conselhos que esses novos empreendedores recebiam, ou eram muito teóricos ou muito voltados para grandes empresas e ilustra:
Em suma, [os conselhos] não eram relevantes para quem aprendia, não no ritmo acelerado que é o mundo da tecnologia. Esses empreendedores encontraram um valor maior em sessões de discussão em grupo e troca informal de conhecimento durante seus horários de almoço ou mesmo durante seus encontros após o trabalho.
Estes empreendedores de Campinas não contam com "super estrelas" do mundo administrativo ou "estrelas" que conhecem bem as novas ferramentas de gestão; eles simplesmente colaboram entre si conseguindo evoluir assim seus empreendimentos.
Quando você é um empreendedor solitário, você não tem a quem recorrer para tirar suas dúvidas e não possui uma diretoria experiente para lhe dar apoio. O grupo de Campinas se uniu justamente para preencher essa lacuna e Vivek Wadhwa reforça:
Isso forçou todos a terem responsabilidade com o grupo, colocando pressão sobre cada equipe para planejar e executar bem. Permitiu também aos empreendedores aprenderem colaborativamente.
Vivek Wadhwa cita também o expressivo aumento de receita conquistado pelas 10 startups em apenas um ano e de mais duas startups que se juntaram na assossiação com valores de receita e investimento que cresceram de $330.000 para $2.1 milhões, além do aumento do quadro de colaboradores de 39 para 56 pessoas:
Muitas das startups mudaram suas estratégias e planos de negócio, mas nenhuma delas, até agora, falhou e várias delas receberam financiamento de investidores locais. E este ano, mais dez startups se juntarão ao grupo.
Como exemplo de mudança, é citada a Gentros, uma startup de biotecnologia fundada em 2008, cuja CEO, Taila Lemos, declarou que sem o aconselhamento e orientação que recebeu, sua startup certamente teria falhado:
Ensinaram-na como determinar o que os seus clientes precisavam, como identificar a viabilidade científica e como gerenciar seu projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Lemos aprendeu os princípios do "Lean Startup" - o processo de desenvolver rapidamente uma prova de conceito, testa-la e obter feedback dos clientes.
Recentemente, a SOFIST, uma startup focada em testes e qualidade de software, deixou o espaço da SOFTEX na UNICAMP e mudou-se para um endereço no entorno da cidade universitária. Como já são membros da cooperativa Associação Campinas Startups, conversaram com seus parceiros com o objetivo de tomar a melhor decisão antes de saírem da incubadora e escolherem um local adequado para se estabelecerem.
Bruno Abreu, co-fundador e diretor técnico da SOFIST relatou que a opção pela saída da UNICAMP surtiu um grande efeito na moral da equipe e que todos ficaram mais animados para desenvolver suas atividades. Cerca de 20 colaboradores estão, agora, muito melhor acomodados, o que contribuiu para um aumento na interatividade. Bruno Abreu relata que:
A mudança para fora da UNICAMP significou um grande marco em nossas vidas, pois está sedimentando nosso profissionalismo e comprometimento, não só com nossos clientes, mas também com nosso grupo de colaboradores que cresce conosco. Nossa visibilidade para o mercado praticamente triplicou.
Em seu artigo para o The Washington Post, Vivek Wadhwa comenta também os exemplos que presenciou na cidade de São Paulo e o grande movimento que encontrou voltado ao empreendedorismo. O autor destaca que o mais ativo desses grupos é o Brazilian Inovators, dirigida por Bedy Yang - um empreendedor que vive no Vale do Silício, mas que viaja constantemente para São Paulo para organizar eventos de networking:
As reuniões começam com palavras de sabedoria compartilhadas por empresários do Vale do Silício por meio do Skype. Em seguida, a reunião se transforma em uma sessão de troca de informações. O que começou há dois anos como um grupo de duas dezenas de pessoas floresceu para um encontro com mais de 300 participantes.
Por fim, Wadhwa acredita que até o final desta década ainda veremos alguns Mark Zuckerberg emergindo de lugares como São Paulo, Campinas ou de outros lugares do mundo como Nova Delhi na India ou Valparaiso no Chile. E por quê? Porque nestes lugares há empreendedores que estão conseguindo criar ecossistemas altamente inovadores.