Durante a conferência UBS Global Technology que ocorreu em novembro, Julie Larson-Green, vice-presidente executiva da divisão Devices and Studios da Microsoft, discutiu a abordagem que a empresa está levando para o mercado de software, expondo a visão interna da empresa, especialmente sobre o espaço ocupado por sistemas operacionais de dispositivos móveis. Foram selecionados os fragmentos mais interessantes da transcrição desta palestra (HTML, DOCX).
Ao responder questionamentos sobre a Microsoft estar "muitos passos atrás" no mercado móvel, Larson-Green reconheceu que a última grande reorganização da empresa que começou em Julho deste ano foi motivada justamente pelo atraso da companhia em relação aos seus concorrentes. A Microsoft está determinada a estar fortemente presente e ativa no mercado móvel por considerá-lo "algo que afeta uma parte enorme do modo como as pessoas vivem, trabalham e interagem hoje em dia".
Ao falar sobre a eminente aposentadoria de Steve Ballmer, Larson-Green tentou minimizar a impressão de que a empresa não possuí um direcionamento claro:
Trabalhamos como uma equipe gerencial, então não somos dependentes de um único tomador de decisões, posso dizer que há um esforço em nosso grupo para que trabalhemos juntos no planejamento e direcionamento do roadmap dos produtos que desejamos fornecer aos nossos clientes em seus dispositivos que, acreditamos, as pessoas precisam e querem. Então, isso (a saída de Ballmer) não nos atrapalhou de modo algum.
Enquanto a Microsoft parece estar a todo vapor buscando alcançar a concorrência no mercado móvel, Larson-Green ainda vê futuro no seu sistema operacional para desktops:
Acredito que ainda existirá por um longo tempo, pelo menos durante minha vida, computadores desktop nos quais as pessoas executam movimentos precisos com o mouse e teclado e que são moldados pensando em alta produtividade.
apesar desta declaração, parece que o foco está de fato nos dispositivos em que o Windows é executado:
algo no seu pulso, ou em sua cabeça, ou em seu bolso que permite a interação para ler seus e-mails, receber notificações, acessar dados corporativos que são necessários para o seu trabalho, além de também interagir com seus amigos e família.
Referenciando inovações passadas como o primeiro iPhone da Apple e sua interface de toque, Larson-Green acredita que o Kinect irá desempenhar papel similar em um futuro próximo:
Haverá outro ponto de inflexão que será fruto do modelo de entrada (input) de hardware. É por esta razão que criamos produtos como o Kinect, baseado em gestos. É possível fazer coisas com a voz. Já há algo vindo nesta direção unindo diversos tipos de interação. Quero dizer: fomos os primeiros a vir com a ideia de tablets, mas a tecnologia ainda não estava disponível que os pudesse tornar realmente móveis ao ponto de poder carregá-los por aí com facilidade. A ideia do tablet permite fazer anotações e estar sempre disponível sem estar preso em um dispositivo de quase três quilos, mas que graças à evolução hoje é uma peça leve e fina. Então todos estes elementos estão se juntando e acreditamos que a cola seja o modelo de interação/experiência do usuário, este ponto de inflexão virá pelo hardware, que é a razão pela qual estamos investindo em dispositivos.
Não apenas smartphones e tablets estarão envolvidos neste processo, mas um mundo de sensores:
Então os sensores se tornarão uma grande parte do modo como se pensa sobre as coisas. Algumas das coisas sobre as quais estamos falando a respeito − como estes aparelhos de ginástica que as pessoas usam em seus pulsos que fazem algumas coisas bem interessantes. Qual a extensão daquilo? Quais são os sensores e as coisas que poderão construir e nos ajudar em nossa vida diária, desde nos informar que as flexões de braço não estão tão boas quanto imaginavamos até informar que o batimento cardíaco está alto demais e precisa relaxar, respirar fundo, até mesmo informar que seu ônibus está atrasado.
Então há um monte de coisas que podemos fazer mudando a maneira como pensamos no modo como as pessoas interagem com a tecnologia. Assim como o mouse foi uma invenção, o toque foi uma invenção, haverá novos modos que usaremos para interagir com nossos dispositivos e é por esta razão que temos focado tanto em interfaces de usuário mais naturais.
E para isto será necessário um novo nível de interação com os aplicativos:
Acredito que conectando aplicativos entre si, porque muitas coisas possuem propósitos especiais, será possível ver novas maneiras de integrar aplicações. Acredito que há muito o que vir desta rede de informação inteligente sobre a pessoa e sua localização.
Não podemos deixar de imaginar como os múltiplos sistemas operacionais da Microsoft − Windows, Windows RT, Windows Phone − se encaixarão neste mundo insinuado por Larson-Green. Sem entrar em detalhes, ela tornou bastante claro que:
Não teremos três sistemas operacionais. Acreditamos em um mundo no qual exista um sistema operacional mais móvel que consiga superar as limitações da vida da bateria e dos problemas de segurança. O custo desta superação será a diminuição da flexibilidade. Então acreditamos nesta visão e continuaremos trilhando por este caminho.
As preocupações como a duração de bateria, segurança e a perda da flexibilidade sugerem que a Microsoft escolheu o Windows RT como o futuro a ser seguido por seus sistemas operacionais voltados para computadores desktop e dispositivos. (Claro, também existirá o Windows Server para o back-end e nuvem, mas esta é outra história.) Informações sobre esta unificação de sistemas operacionais começou a aparecer em 2011, inicialmente negadas pela Microsoft, mas reiteradas um ano depois, e reforçadas pela recente consolidação das lojas de aplicativos para Windows e Windows Phone.