Na conferência GOTO Berlin 2015, Stephen Carver, consultor e palestrante sênior na área de gerenciamento de programas e projetos, apresentou um keynote a respeito do estudo de caso do ônibus espacial. O keynote abordou os temas de comunicação entre gerentes e engenheiros, aprendizagem com as falhas, os perigos do pensamento de grupo e aprendizagem organizacional.
O InfoQ.com o questionou a respeito de que procedimentos e regras não são suficientes para prevenir problemas, como viabilizar a comunicação entre engenheiros trabalhando em empresas diferentes, como permitir que o aprendizado a partir dos erros seja levado a um novo nível de forma a prevenir problemas semelhantes e sobre o que engenheiros podem fazer caso queiram influenciar decisões no desenvolvimento e lançamento/entrega de produtos.
InfoQ.com: Em sua palestra, foram mencionados acidentes que aconteceram em naves espaciais e o que causou esses acidentes. Qual o motivo da escolha desse tópico?
Stephen Carver: Como muitas coisas da vida, esse estudo de caso é um exemplo de coincidências felizes. A primeira vez que ouvi algo a respeito do que aconteceu foi a muitos anos atrás e fiquei tão chocado que mencionei o fato em uma palestra. Alguém me procurou após a palestra e acrescentou alguma coisa a história de forma que ao longo dos anos foi crescendo e o que começou como um comentário de um minuto se transformou em palestras e workshops que podem durar um dia inteiro. Penso que esse é um bom exemplo de uma história que cresceu organicamente por que a verdade essencial que está por trás desta história é muito poderosa para as pessoas.
InfoQ.com: A Nasa tentou resolver os problemas através de mais procedimentos e regras. Isso é similar ao que a indústria de software tentou fazer com métodos e procedimentos para o desenvolvimento de software?
Stephen Carver: Sim! Como disse Albert Einstein "A mente intuitiva é um dom sagrado e a mente racional um servo fiel. Criamos uma sociedade que honra o servo e esqueceu o dom". Como seres humano nosso maior dom é a habilidade de misturar o lógico com o intuitivo e assim criar novas ideias e possibilidades. Devido a percepção, de que houve um aumento do caos e complexidade no mundo, recentemente surgiu uma tendência de tentar recuperar o controle usando métodos lógicos lineares. Apesar de aparentemente ajudarem, muitos desses sistemas na verdade pioram o problema, mas é por meio deles que temos a maravilhosa rastreabilidade que permite auditar e explicar as falhas!
InfoQ.com: A coordenação entre pessoas e equipes de diferentes organizações pode ser difícil. Quais as sugestões do que fazer quando se é um engenheiro de uma organização trabalhando de forma conjunta com engenheiros de outras organizações?
Stephen Carver: É simples, vá visitá-los e almoce com eles! Sabemos que uma boa comunicação depende não apenas das palavras e informações, mas também do tom e da linguagem corporal. Muitos engenheiros usam apenas dados e assim perdem 70% do seu potencial de comunicação. Existem pessoas que acham que viagens e almoços são caros, mas se acha que um almoço ou um taxi são caros, experimente o preço da falha de um projeto. O Crescimento das ferramentas de videoconferência tem diminuindo as distâncias, mas ainda sim, poucos engenheiros os usam efetivamente. Pare de mandar emails e comece a encontrar com as pessoas.
InfoQ.com: Aprendemos com acidentes e problemas que aconteceram. Quais as dicas para levar esse conhecimento a um outro nível e prevenir problemas similares no futuro?
Stephen Carver: Histórias. Mais uma vez vou citar Einstein: "se deseja que seus filhos sejam inteligentes, conte histórias para eles. Se quer que eles sejam mais inteligentes conte mais histórias para eles". Descobri que muitas organizações falham em aprender com erros a medida que apenas aplicam mais regras e/ou punições/governança. Apesar das regras serem parte da solução, percebi que se combinamos regras com histórias as pessoas absorvem melhor as lições e existe uma tendência para que se comportem de maneira diferente em um próximo episódio ao qual se aplica a regras. Por exemplo, todo banqueiro deveria assistir (de preferência duas vezes por ano) um filme lançado recentemente (filmes são uma forma de história) chamado "The Big Short" como parte de sua educação, caso contrário, logo teremos outro colapso bancário global em breve.
InfoQ.com: Em vários pontos das suas palestra é questionado "quem decide". Frequentemente é o gerente, as pessoas que estão pagando ou aqueles com maior poder político que tomam a decisão de seguir adiante ou parar. Em sua opinião, quais os riscos associados com esse modelo de tomada de decisão?
Stephen Carver: Essa questão deve ser analisada de ambos os pontos de vista. Sim, muitos "gerentes" (que tem poder político e financeiro) parecem distantes da realidade em suas ações. Por outro lado, muitos "trabalhadores" simplesmente usam esse fato como desculpa para não fazer nada ou criticar a "gerencia". Nas melhores organizações esse tipo de polarização estereotipada de papeis é substituído por um modelo de equipe mais integrado.
InfoQ.com: Quais os conselhos para engenheiros (desenvolvedores de software, analistas de testes e líderes técnicos) se desejam influenciar as decisões no processo de desenvolvimento de entrega de produtos?
Stephen Carver: Simples - façam um curso de gestão! Não estou dizendo que devem se tornar gerentes, mas sim que é preciso compreender a linguagem, motivação e perspectiva dos gerentes. Só assim a comunicação se torna viável e essa influência pode acontecer. Também é importante lembrar que não - gerentes não vão aprender engenharia, pois não tem a base matemática necessária!