A equipe automobilística Nuon Solar usa Agile e Scrum para tomar ações que agregam maior valor ao projeto, integram diferentes disciplinas, garantem transparência e foco, e refletem para melhorar. Seu objetivo é promover e educar para o uso de energia limpa; a missão é ganhar o Sasol Solar Challenge - uma corrida em que veículos participantes só podem usar energia solar como combustível - usando o poder da inovação. A qualidade da direção e da interação são os principais fatores que impulsionam seu sucesso.
Jelle van der Lugt, gerente de equipe da Nuon Solar, falou na conferência Agile Consortium Belgium 2018, em Bruxelas, sobre como a equipe aplica o Agile. O InfoQ cobriu a conferência com Q/A, resumos, e artigos.
O tema da conferência neste ano foi "Making Enterprise Agility Sustainable" (Tornando Sustentável a Agilidade Empresarial):
Hoje no mercado, vemos as empresas atravessando uma grande mudança cultural e organizacional para alcançar a agilidade empresarial. Mas uma vez que a jornada está em andamento ou mesmo aparentemente finalizada, a pergunta que surge é: como podemos tornar essas mudanças sustentáveis?
O InfoQ entrevistou van der Lugt sobre como a Nuon Solar aplica Agile para desenvolver um carro solar.
InfoQ: Quem é a Nuon Solar e o que ela faz?
Jelle van der Lugt: A Nuon Solar é uma equipe de estudantes que participa de corridas solares. A equipe é chamada de "dream team" (equipe dos sonhos) e é composta por 10 alunos da [Universidade] TU Delft. Participamos do Bridgestone World Solar Challenge na Austrália, e no Sasol Solar Challenge na África do Sul. Nosso objetivo é promover e educar sobre o uso de energia limpa.
InfoQ: O que o fez escolher usar o Scrum nesta equipe?
van der Lugt: Optamos por usar o Scrum por vários motivos. O primeiro é muito simples: usando o Scrum, não precisamos gastar tempo no desenvolvimento da nossa própria estrutura organizacional. O Scrum é um sistema que provou a si mesmo; faz sentido usar essa experiência para nosso benefício. O segundo motivo é que o Scrum nos obriga a primeiramente dar o passo que mais contribui para o projeto. Para nós, isso é muito importante porque adoramos implementar coisas novas e legais em nosso carro solar, mas sem quatro rodas e uma matriz solar o carro não vai andar. Os princípios básicos, que são menos estimulantes para técnicos brilhantes, ainda precisam ser feitos primeiro.
O Scrum garante que disciplinas diferentes sejam integradas. Com a stand-up, todos perguntam o que vão fazer e se precisam de ajuda. Percebo que muitas vezes outras disciplinas podem se ajudar na resolução de problemas.
O Scrum também garante que haja transparência e foco. Só posso fazer uma coisa de cada vez. Já notei que, fazendo uma coisa por vez, termino mais rápido e o resultado tem maior qualidade. Isso é puramente porque não mudo de tarefas o tempo todo.
E o último motivo - para mim o mais importante: o Scrum tem momentos obrigatórios de reflexão. Na equipe Nuon Solar, temos dois momentos de reflexão: a retrospectiva oficial e o nosso check-in autodidata. A retrospectiva se concentra em melhorar a forma como nossa equipe usa Scrum, e o check-in concentra-se nas emoções da equipe.
O InfoQ entrevistou Jeroen Molenaar sobre o treinamento da equipe solar. Molenaar explicou como fazem suas retrospectivas.
Jeroen Molenaar: As retrospectivas alternam entre ter um foco de equipe numa semana e um foco pessoal na outra. Desta forma, a cada semana era preciso se concentrar ou na equipe ou no indivíduo. O benefício é que cada membro da equipe recebe feedback de todos a cada duas semanas. Isso evita o elefante na sala; todos sabem que há contrariedades, mas a equipe não está pronta para lidar com isso na retrospectiva em equipe.
InfoQ: o que aprendeu nas retrospectivas e como usou isso para melhorar?
van der Lugt: No início, a retrospectiva foi usada principalmente para entender o Scrum com toda a equipe. Eu e o Rintati fizemos o curso Scrum Master, mas os outros oito membros da equipe não. Então trabalhamos muito na aplicação do Scrum na prática.
Nas últimas duas retrospectivas, começamos a melhorar o Scrum para as nossas necessidades. Uma melhoria de cada vez. A última que fizemos foi adicionar a pergunta: "Você precisa de ajuda?" na stand-up diária. Com isso, esperamos melhorar a interação entre disciplinas e resolver problemas usando os talentos e o conhecimento uns dos outros.
InfoQ: Como o uso do Agile e do Scrum diferem do desenvolvimento de um carro de corrida?
van der Lugt: É uma pergunta difícil porque esta é a primeira vez que uso Scrum. Juntamente com o Epic Agility, desenvolvemos nossa própria versão do Scrum.
O InfoQ perguntou a Jeroen Molenaar, da Epic Agility, sobre a diferença:
Molenaar: Ao se treiná-los, descobre-se que os engenheiros são um tipo parecido de pessoas; um pouco introvertidos e um pouco "binários". Isso torna divertido para mim treiná-los.
A diferença é o conhecimento do domínio. Entenda que o hardware não é software; é preciso aprender coisas novas que são importantes no mundo deles: cálculo, previsão, nomes de peças. Assim, especialmente o lado técnico do treinamento ágil de equipes de software é diferente, já que os mesmos conceitos simplesmente não se aplicam.
Isto é um carro; é hardware - significa que não pode automatizar tanto. Portanto, deve-se encontrar abordagens diferentes para testar e verificar coisas. Além disso, ao construir hardware, é possível alterar a forma ou uma parte com facilidade. Isso resulta em que o projeto seja mais escalonado do que poderia prever e desejar em projetos de software (design > build > test).
As coisas que tentamos são protótipos rápidos para descobrir qual é a maneira mais fácil de testar algo rapidamente. É preciso ser mais tolerante; quão fácil pode-se mudar uma peça para outra de uma marca diferente? Então também vai querer decidir o mais tarde possível, adiar decisões importantes, e criar flexibilidade para fazer isso (manter o impacto das decisões o mais baixo possível).
InfoQ: Quais são os fatores que tornaram esta equipe bem-sucedida?
van der Lugt: O fator de sucesso mais importante nesta equipe é o caminho para ser uma equipe no pico de performance. Isso significa trabalhar em dois fatores: qualidade de direção e qualidade de interação. A qualidade de direção significa uma missão clara para a equipe e para o indivíduo.
Nossa missão de equipe, por exemplo, é ganhar o Sasol Solar Challenge na África do Sul usando o poder da inovação. E o meu objetivo pessoal é criar um ambiente onde decidimos o que podemos e o que não podemos fazer. Ao alinhar os objetivos individuais com a missão da equipe, estamos nos tornando uma equipe que trabalha com pura motivação intrínseca.
A qualidade de interação significa confiar plenamente uns nos outros. Acho que um dos fatores mais importantes para alcançar isso é aprender por que os membros da equipe pensam como pensam. Tentamos conhecer ao outro melhor do que a nós mesmos. Um exemplo de uma sessão que fizemos para melhorar a qualidade da interação foi: Por que, por que, por quê? O membro "A" pergunta ao membro "B" por que ele se juntou à equipe Nuon Solar. Então "A" escreve suas respostas. Fizemos isso por cinco minutos e quando o tempo acabou trocamos de papéis. Depois fizemos o mesmo, mas em uma camada mais profunda: "A" pergunta a "B": "Por que você deu essas respostas na primeira rodada?". No total, perguntam-se "por que" três vezes um ao outro. Os resultados da sessão foram únicos e aprendemos muito sobre o outro. É muito raro que se busque a razão mais profunda pela qual cada um escolheu se comprometer com a equipe Nuon Solar.
Quando ambos os fatores são atendidos, poderemos alcançar nosso verdadeiro potencial. Ainda temos um longo caminho antes de chegar a isso, mas chegaremos lá!