Na conferência Agile Índia, o especialista em design Alan Cooper palestrou sobre "Trabalhar de Trás pra Frente", onde descreveu uma abordagem para inovação e design que tem sido base de seu processo e prática por mais de 26 anos. A abordagem possui três elementos-chave:
- Conhecer seu usuário e seus objetivos
- Enxergar possíveis soluções
- Ver o panorama geral (Big Picture)
Cooper explorou cada um destes temas e focou nas implicações vindas da forma como atualmente construímos e lançamos produtos, muitas vezes sem considerar o impacto mais amplo que podem ter na sociedade como um todo.
Cooper pontuou que o tanto de esforço necessário para fazer um produto falho é o mesmo envolvido para fazer um produto de sucesso; a diferença não está no trabalho feito e sim no ponto onde o trabalho começa. Trabalhar de trás para frente começa pelos objetivos e resultados em vez de requisitos e limitações. Identifica-se a uma visão prévia do produto que se alinhe com os resultados do cliente e gera um produto bem sucedido.
Os elementos-chave de se trabalhar olhando de trás para frente são:
- Questionar toda suposição; desafie a crença aceita, "o modo como sempre fazemos as coisas" e o "todos sabemos que…"
- Dê um passo para trás por meio de pesquisas genuínas e a mente aberta
- Vá em frente com conhecimento e confiança
O paradoxo da inovação é que quanto mais inovadora é uma ideia, menos sabemos como implementá-la - o que significa que automaticamente não sabemos como alcançar o resultado desejado e, portanto, temos que descobrir isso à medida que avançamos.
Algumas ferramentas de design e inovação identificadas e usadas por Cooper foram discutidas, como:
- Pensamento mágico: o que faria se qualquer coisa fosse possível, se não houvesse limitações, se tivesse todo o dinheiro e recursos que pudesse desejar?
- Personas: conduzir pesquisas para entender profundamente os objetivos, motivações, necessidades e desejos das pessoas que irão usar o produto.
As abordagens e questões fundamentais relativas à comparação entre "Trabalhar olhando para frente" e "Trabalhar olhando de trás pra frente" foram caracterizadas da seguinte maneira:
Trabalhar olhando para frente |
Trabalhar olhando de trás para frente |
Confirmação do que pensamos que já sabemos |
Descoberta do que não sabemos que não sabemos |
Otimização do que já temos/fizemos |
Oportunidade de fazer coisas novas de formas diferentes |
Frágil |
Adaptável |
Limitações e requisitos |
Possibilidades |
Onde estamos certos? |
Onde estamos errados? |
Cooper explicou o método (dirigido a objetivo) de identificar necessidades que envolvem buscar as respostas de três perguntas importantes:
- Quem é seu usuário?
- Qual é o estado final desejado para ele?
- O que o motiva a vir até aqui?
Se não partir disso para o entendimento, não importará o quão bacana seus produtos sejam, pois ninguém os desejarão.
Foi enfatizado que o design não é uma atividade separada ou uma fase do desenvolvimento de produtos - citando Molly Nix (Designer de Produto sênior na UBER), "design é o processo usado para construir produtos". E foi contada a história de como Cooper se juntou à United Airlines e surgiu o MillagePlus X App, que resultou em mais de 100 milhões de dólares de vendas adicionadas ao longo de três anos.
Uma grande ênfase foi dada ao ponto de que a inovação precisa tanto de inspiração quanto de transpiração, de que não é suficiente apenas ter uma ideia. A ideia precisa ser seguida por um senso implacável de torná-la real. Cooper cunhou uma frase:
Seu ego o constrói, sua humildade o ama. Para ter sucesso em um mundo de inovação, você precisa de ambos.
Também foi explicado que a abordagem de trabalhar olhando de trás para frente é contra-intuitiva para a maioria das pessoas. Nosso senso comum e lógica tende a começar pelo ponto de vista de que sabemos o que é necessário e então resolvermos o problema que está à nossa frente. Cooper referenciou o codex de vícios cognitivos e sobre como eles nos empurram a pensar para frente. Foi dito que:
O senso comum nada mais é do que nosso vício cognitivo falando.
Foi referenciado o trabalho de Daniel Kahneman em "Rápido e Devagar - duas formas de pensar", comentando sobre ser necessário nosso engajamento no pensar lentamente do Sistema 2 de nossas mentes enquanto trabalhamos olhando para trás.
Então, Cooper explorou os sistemas complexos que compõem nossas sociedades hoje e encorajou a audiência a olhar além dos simples efeitos de primeira ordem das ações e a explorar as conseqüências não-intencionais das ações que tomamos e das tecnologias que construímos.
Cooper sugeriu que, por trabalharmos e estarmos envolvidos com a tecnologia, é nossa responsabilidade criar uma sociedade justa e pacífica para todos; devemos ser bons ancestrais para as futuras gerações; e a responsabilidade para isso, além do poder de criar uma sociedade justa e razoável, está mais em nossas mãos do que em quaisquer outras.
A audiência foi desafiada a olhar para além de seus produtos atuais ao trabalhar olhando de trás para frente, para observar as implicações sociais do que fazemos e para focar em ser um ancestral melhor; deixar o mundo melhor do que quando o encontramos para fazer nosso trabalho. Quando você se torna um inovador, se tornará mais poderoso e isso significa que deve se tornar ainda mais responsável. Será preciso avaliar os efeitos a longo prazo do trabalho que faz, não apenas em termos do seu produto mas também sobre seus times, sua empresa e sobre a sociedade como um todo. Avalie não somente o valor imediato da sua criatividade, mas também os efeitos a longo prazo disso.
Citando Gustavo Petro, prefeito de Bogotá, "um país desenvolvido não é um lugar onde os pobres possuem carros, é onde os ricos usam o transporte público". Cooper reiterou aos membros da audiência para serem:
Designers que fazem de seus projetos parte de algo maior do mundo social e torna o mundo melhor um app por vez. A maneira de fazer um mundo melhor é tendo a certeza de que cada pequena peça do mundo que você cria torna-o um ancestral melhor para seus descendentes.