Quando estamos estressados, ameaçados ou inseguros, se torna mais difícil pensar de maneira criativa, trabalhar de forma colaborativa e resolver problemas. Podemos cultivar uma cultura de segurança ao deixar claro que as pessoas podem errar, entendendo realmente o que acontece e praticando a atenção total.
Alex Harms, coach na empresa Maitria, palestrou sobre como cultivar a segurança psicológica na Agile Games conference 2018. A conferência aconteceu em Burlington, MA, EUA, entre 9 e 11 de Abril.
Essa conferência explorou maneiras de utilizar serious game para melhorar significativamente o desempenho das equipes, por meio do aumento da segurança psicológica e outros atributos chaves. Focando no uso de de jogos, atividades colaborativas e exercícios interativos para dar suporte ao valor, princípios e práticas do lean e agile.
O InfoQ conversou com Harms sobre o que faz da segurança psicológica algo tão importante para as equipes ágeis, o que podemos fazer para cultivá-la e como é, na prática, uma liderança técnica empática.
InfoQ: Como descrever a segurança psicológica?
Alex Harms: Para que haja segurança psicológica, é necessário sentir que, na sua equipe, é seguro assumir riscos. Que é permitido expressar sua opinião sem ser ridicularizado nem deixado de lado. Que erros podem acontecer ou fazer perguntas sem o risco de consequências interpessoais negativas, sem o medo de ser julgado.
InfoQ: O que faz a segurança psicológica tão importante para as equipes ágeis?
Harms: Quando estamos estressados, ameaçados ou inseguros, nossos corpos nos ajudam a fazer várias coisas de forma melhor. Somos capazes de correr mais rápido, bater mais forte, gritar mais alto. Somos capazes de perceber o menor movimento pelo canto dos olhos. Coisas que não fazemos melhor: pensar de forma criativa, trabalhar de forma colaborativa, resolver problemas. A adrenalina simplesmente não ajuda em nada. Essas atividades são mais humanas e funcionam melhor em um ambiente mais humano.
InfoQ: O que podemos fazer para cultivar a segurança psicológica nas equipes?
Harms: Como líderes ou colegas de trabalho, ajudamos a definir o tom, mesmo sem a intenção de fazê-lo. É importante que a sua mensagem - falada ou não - seja de segurança.
Ajude a cultivar uma cultura de segurança ao fazer com que outras pessoas saibam que é seguro cometer erros. Curta seus próprios erros, ria e aprenda com eles. Aceite as incertezas inerentes ao trabalho que fazemos e modele a falibilidade. "Eu não tenho certeza se estou acertando nisso. Pode me ajudar?"
Outra habilidade que pode ajudar a contribuir para a segurança é ouvir para o entendimento real (ao invés de simplesmente ficar quieto e balançar a cabeça positivamente). Aprender o que está acontecendo com alguém naturalmente leva à curiosidade e, a curiosidade combate o julgamento. Também ajuda praticar a atenção total, de forma a distanciar um pouco sua reação do que aconteceu. Nesse espaço de tempo comece a substituir o julgamento pela curiosidade e, comece a ouvir e ser mais empático, mesmo quando for difícil.
InfoQ: Sobre seu livro "The Little Guide to Empathetic Technical Leadership". Como é a liderança técnica empática na prática?
Harms: Quando há um conflito, um líder empático ajuda a focar a discussão em um resultado que funcione para todos. Quando há coisas difíceis de serem ouvidas, o líder empático as ouve, pois as pessoas não tem medo de expressar suas opiniões.
A liderança empática começa ao se prestar atenção. Durante reuniões, perceba quem se manifesta e quem não. Preste atenção na linguagem corporal. Pense sobre as necessidades das pessoas e veja se estão sendo atendidas. Pergunte e ouça. A Auto-Escuta - ouvir para entender - é uma habilidade importante para líderes empáticos e não é algo que vem naturalmente. Mas pode ser aprendido.
InfoQ: Se os leitores do InfoQ quiserem aprender mais sobre segurança psicológica, o que podem fazer?
Harms: Recomendo meu livro sobre liderança técnica empática. O Carl Rogers, que contribuiu muito para o nosso entendimento sobre segurança psicológica, antes que ela tivesse esse nome, escreveu um pequeno livro chamado "Active Listening" que também recomendo. E o livro Comunicação Não-Violenta "Nonviolent Communication" por Marshall Rosenberg é uma leitura reveladora sobre empatia.
Existem algumas pessoas pesquisando sobre esse assunto no momento. Aqui temos a palestra Construindo um Ambiente de Trabalho Psicologicamente Seguro, por Amy Edmondson, uma professora em Harvard que já fez muitos trabalhos sobre segurança psicológica. E também esse TED Talk, O Poder da Vulnerabilidade, por Brené Brown, uma pesquisadora na universidade de Houston.
A Maitria tem uma comunidade florescente no Slack, no qual é possível perguntar e conhecer outras pessoas interessadas em atenção plena, compaixão e empatia no trabalho. Para fazer parte, envie um email para hello@maitria.com.
Fora isso, diria que a chave é continuar trabalhando em você mesmo. Cultive ao seu redor um grupo de pessoas que se importam com segurança e trabalhem juntos nas habilidades que levam a isso. Tenha momentos de quietude para se autoconhecer e entender como responder às situações. Foque em ter compaixão consigo mesmo e use o que aprendeu para se ajudar a ser presente no mundo da forma como gostaria.