A humanidade é o coração do trabalho intelectual criativo no qual muitos estão engajados. A base das equipes de alta performance são pessoas que têm liberdade e autonomia e se sentem mais seguras. Jogos podem ser usados para apoiar a autoconsciência e conexão, além de construir com segurança a inteligência emocional da equipe.
Richard Kasperowski, palestrante, treinador, coach e autor focado em equipes de alta performance, falou sobre Cultura, Segurança Psicológica e Inteligência Emocional na conferência Agile Games 2018. A InfoQ cobriu este evento com artigos e Q/As, e teve a oportunidade de conversar com Kasperowski sobre a cultura das equipes de alto performance, auto-organização em empresas hierárquicas com estruturas de poder, e o uso de jogos para trabalhar a cultura da equipe.
InfoQ: Como é a cultura de uma equipe de alta performance?
Richard Kasperowski: Uma equipe de alta performance se parece com um grupo de amigos, um grupo de pessoas em um estado intenso de amizade. Se observar uma dessas equipes por meio de um único ponto de vista, iriam parecer como amigos, pois exibiriam comportamentos colaborativos e de cuidado. E ainda estariam super alinhados entre cada um deles e seus objetivos, pois estariam criando e fazendo coisas.
InfoQ: E se não considero meus colegas como amigos? Quero dizer, gosto de trabalhar com eles, mas preciso mesmo me tornar amigo de todos para fazer nossa equipe funcionar?
Kasperowski: Não estou dizendo que é preciso estarem juntos o dia inteiro, comendo todas as refeições juntos ou caminhando juntos todo final de semana. Porém, a observação é de que uma equipe de alta performance se parece com um grupo de amigos. E há certos padrões de comportamento exibidos para entendermos isso. Então, se deseja uma equipe de alta performance, será preciso incorporar esses comportamentos na sua equipe.
InfoQ: Quais são os principais desafios que as empresas encaram quando trabalham em direção a uma cultura assim?
Kasperowski: Muitas empresas estão estruturadas para a era industrial, pois operam para maximizar a eficiência dos recursos insuficientes. Essas empresas nos coagem a fazer mais em menos tempo, e nos ameaçam com demissão se não concordamos. Somos desumanizados pelo uso de palavras como "recurso" em vez de "pessoa" - aliás, já ouviu falar no departamento de recursos humanos, certo? A realização e retorno financeiro são tudo o que interessa.
Esse tipo de gestão poderia ser bom para o trabalho repetitivo da era industrial, mas destrói a inventividade e a inovação; destrói a humanidade, que é o coração do trabalho intelectual criativo no qual muitos estão engajados hoje em dia. A pesquisa com pessoas como Laloux e Edmondson demonstra que estamos mais empenhados quando nossa cultura organizacional é humanística e holística, e tratamos as pessoas como pessoas, cuidamos bem de cada um, somos gerenciados de forma autônoma e estamos conectados ao fluxo do grupo. Coincidentemente, quando tudo isso é feito, temos resultados melhores.
InfoQ: A auto-organização pode funcionar em organizações hierárquicas com estruturas de poder? Como?
Kasperowski: Se quiser mais inovação e resultados melhores, provavelmente também será necessário reduzir a distância do poder e hierarquia. A liberdade e a autonomia são bases, e há práticas que sua organização inteira pode adotar para diminuir a distância do poder via liberdade e autonomia.
Faça com que tudo seja aceito, começando com a participação na equipe: dê orientações claras sobre as metas e deixe as pessoas formarem equipes por conta própria. Na verdade, convide as pessoas para as reuniões em vez de torná-las obrigatórias. Esses e-mails de calendário que chegam na sua caixa de entrada são chamados de "convites", certo? Então trate-os dessa maneira! Permita que as pessoas declinem e façam check-out das atividades que não desejam participar ou quando pensam que têm um trabalho mais importante a ser feito.
Esses comportamentos de liberdade e autonomia diminuem a distância do poder: não comande o que as pessoas devem fazer. Quando as pessoas têm liberdade e autonomia, começam a se sentir mais seguras. Essa sensação de segurança é a base dos times de alta performance.
InfoQ: Quais tipos de jogos podem ser jogados para trabalhar a cultura da equipe?
Kasperowski: Baseado nesse alicerce de liberdade, pode-se adicionar atividades para autoconhecimento e conexão. O teste de emoção é um ótimo exemplo e tem um roteiro fácil de seguir. Só é preciso preencher o espaço em branco: "Eu sinto ____________". Para facilitar, fazemos várias escolhas: preencha o espaço em branco com alegria, tristeza, maluquice ou medo. E pode-se adicionar informações adicionais para explicar por que se sente assim. Quando todos em uma equipe fazem isso, cria-se uma inteligência emocional para a segurança que já estabeleceram. E o check-in inclui seus próprios mecanismos de segurança: ninguém fala sobre seu check-in, ninguém tenta "consertar" seu estado emocional e se quiser pode nem fazer. Muitas equipes adicionam isso ao seu stand-up diário como uma quarta questão: "como se sente agora?"
InfoQ: Quando e como as equipes podem jogar esses jogos?
Kasperowski: Tente incorporar alguns dos Core Protocols em suas atividades do dia-a-dia. Deixe as pessoas aceitar ou não. Tente checar as emoções todas as manhãs. Tente um encontro no qual os "decisores" são a única coisa feita conjuntamente - provavalemnte se surpreenderá com o quão eficiente é essa reunião. E peça ajuda cedo e constantemente. Pode ser para mim também, por meio do meu site ou email.