Ron Jeffries, autor, palestrante, um dos criadores do Extreme Programming (XP) e signatário do Manifesto Ágil em 2001, compartilhou um post em seu blog no qual defende que os desenvolvedores devem abandonar o "Ágil". Neste post, afirma que os desenvolvedores devem ficar longe das formas "Faux Agile" ou "Dark Agile" e se aproximar dos valores e princípios do Manifesto.
Os termos "Faux Agile" e "Dark Agile" são usados pelo autor para enfatizar a variedade de abordagens chamadas "ágeis" que têm contribuído, segundo Jeffries, para tornar a vida dos desenvolvedores muito pior do que melhor, o que seria a antítese das ideias iniciais do Manifesto Ágil. As principais razões apontadas por Jeffries são:
"É bom para a empresa e não tão bom para os desenvolvedores."
Quando as empresas tentam adotar o ágil, geralmente significa que estão tentando melhorar a forma como fazem as coisas. Com a ajuda dos mais diferentes tipos e sabores de coaching e treinamentos existentes, a empresa se torna apta a aumentar a visibilidade de seus problemas, o que tipicamente resulta na alta gestão tomando decisões melhores e mais informadas, assim como a empresa como um todo. De acordo com o autor, isso é definitivamente algo bom, mesmo se os valores e princípios do Manifesto estejam mal aplicados. E passa a ser algo ruim primeiramente para os desenvolvedores, e por fim, para as próprias empresas quando temos as implementações ruins do ágil.
[As adoções do ágil] costumam levar a mais interferências no dia dos desenvolvedores, menos tempo para fazer o trabalho, pressão maior, e demandas que precisam "ir mais rápido". Isso é tão ruim para os desenvolvedores quanto é para a empresa, porque fazer um "ágil" pobre resultará, com mais frequência, em muito mais defeitos e um progresso muito mais lento do que poderia ser atingido. Muitas vezes, bons desenvolvedores deixam essas organizações, o que resulta em uma empresa menos efetiva do que antes de implementar o "ágil".
Os desenvolvedores continuam trabalhando sob uma abordagem imposta."
Trabalhar para uma empresa ou grande corporação geralmente significa que algumas coisas serão decididas pelo alto escalão e então serão implementadas e escaladas para o restante da organização. Isso é o que tipicamente acontece para implementações em larga escala do Scrum usando o SAFe, LeSS e outros, segundo Jeffries. Assim, a maior parte das pessoas será solicitada a adotar e iniciar a prática sem um treinamento apropriado ou coaching, e sem o entendimento real da mentalidade por trás disso.
Embora não seja possível controlar algumas das coisas que acontecem ao seu redor, Jeffries compartilhou alguns conselhos, listados abaixo:
- Selecione o trabalho a ser feito de forma que lhe permita entregar pequenas partes de software funcional a cada duas semanas (ou mais).
- Abaixe ainda mais as expectativas, é preciso que entenda bem a sua capacidade de entrega assim como os outros também.
- Estimule as conversas sobre os pequenos incrementos entregues em cada uma das iterações.
Voltando para as raízes do Manifesto Ágil, Jeffries reforça a ideia de que o mais importante por trás do ágil é a mentalidade, seus valores e princípios, pois todos ainda oferecem a melhor maneira de se construir software. Então, independentemente do framework ou método formalizado por uma organização, todo desenvolvedor ágil deveria trabalhar das seguintes formas:
- Produzir software funcional, testado e integrado a cada duas semanas, ou toda semana. E desenvolver suas habilidades até conseguir criar uma versão funcional todos os dias, duas vezes por dia, e então, múltiplas vezes por dia.
- Manter limpo o design do software. Conforme cresce, o design tende a se tornar mais complexo e cheio de coisas desnecessárias. Resista e inverta essa tendência conscientemente, refatorar em pequenos passos contínuos, o tempo todo, para que seu progresso seja tão estável quanto consistente.
- Use o incremento atual do software como a base para suas conversas com as pessoas da liderança e gestão do produto. Fale tanto em termos do que está pronto para ser feito, quanto em termos do que gostariam que você fizesse a seguir.
Ron Jeffries publica artigos em seu blog e também no Twitter.