No início do ano a Perpetual Guardian, uma empresa neozelandesa que gerencia ativos, testamentos e propriedades, convidou seus duzentos e quarenta funcionários para participar de um experimento durante oito semanas na qual iriam trabalhar quatro dias por semana e aproveitar um dia de lazer extra, ganhando o mesmo salário.
A tentativa partiu do CEO e co-fundador Andrew Barnes, que lançou o desafio e convidou a companhia para participar de uma discussão sobre futuro do trabalho e como, aumentar a flexibilidade e o tempo livre poderiam impactar na produtividade e nos resultados da empresa.
Para garantir a robustez do processo, foram contratados dois pesquisadores acadêmicos para preparar, conduzir e analisar dos resultados da pesquisa.
Alguns dos principais resultados compartilhados pela pesquisa são:
- Os líderes informaram que a performance de trabalho manteve-se no mesmo nível;
- Os níveis de estresse caíram de 45 para 38%;
- O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional melhorou significativamente de 54 para 78%;
- O nível de engajamento do time aumentou num intervalo de 64%-68% para 82%-88%.
De acordo com Barnes,
Ao analisar o resultado evidencia-se que os objetivos do teste foram atingidos com sucesso. Nas áreas chave onde procurou-se medir equilíbrio entre vida pessoal e profissional, engajamento, comprometimento organizacional e estimulação no trabalho, todas mostraram crescimento positivo, e isso é uma combinação poderosa que leva a satisfação no trabalho
Christine Brotherton, head da companhia em capabilidade e pessoas, menciona que essa pesquisa é também uma oportunidade de encontrar o inesperado. Por exemplo, observou-se uma clara relação entre o empoderamento dado pelos gerentes para as mudanças e os níveis de motivação para o sucesso.
É possível identificar deficiências na liderança que sem a pesquisa não teríamos tido a oportunidade de ver.
A perspectiva dos pesquisadores, em ambas as análises, qualitativa e quantitativa mostra sinais positivos. Jarrod Haar professor de gestão de recursos humanos da Auckland University of Technology, avaliou os números relacionados a satisfação, engajamento e retenção, e afirma que:
Havia bastante expectativa para o teste, e ela aumentou significativamente após o teste, a pontuação mais alta que já vi na Nova Zelândia. Resumindo, os funcionários demonstraram atitudes de engajamento no trabalho refletindo os efeitos positivos da pesquisa.
Em correlação, Dra Helen Delaney, uma experiente professora da University of Auckland Business School, menciona que devido ao fato dos funcionários estarem envolvidos na preparação e planejamento do teste, os mesmos expressaram um senso de gratidão e empoderamento e o resultado foi que,
Os funcionários desenvolveram uma série de inovações e iniciativas para trabalhar com mais produtividade e eficiência, que vieram de automação de processos manuais, para reduzir ou eliminar trabalhos não relacionados ao uso de internet.
O assunto ganhou atenção no mundo dos negócios, e vem sendo mencionado em lugares como o The Guardian, CNBC e The New York Times, a companhia convida a quem tiver interesse em participar dessa discussão, juntar-se a ela no site four-day week.
O InfoQ, falou com Barnes para obter mais detalhes sobre como nasceu a idéia, de que maneira isso pode ser aplicado em outras companhias, como por exemplo na indústria de desenvolvimento de software, e quais são os planos e expectativas para um futuro próximo.
InfoQ: Como surgiu a idéia de trabalhar quatro dias por semana? Houve algum motivo específico para isso?
Andrew Barnes: Li muitos artigos sobre economia e eles indicam que as pessoas trabalhar realmente menos de 2,5 horas por dia. E isso me levou a pensar quais seriam as razões para isso: 1 Sociais...pessoas gastam tempo todos os dias tomando café, conversando com colegas de trabalho e usando mídia sociais. 2. Interrupções, especialmente em escritórios abertos, evidências mostram que uma interrupção durante um momento de concentração, demora mais de vinte minutos para retomar o mesmo nível de produtividade. 3 Casa e família, problemas que surgem como por exemplo: reformas, etc, e que precisam ser resolvidos durante a semana de trabalho. Minha tese foi: se eu presenteasse meus funcionários com um dia de trabalho livre, isso poderia mudar esses comportamentos e não precisaríamos de um ganho significante de produtividade diária para compensar o dia livre.
InfoQ: Na sua opinião qual foi o resultado mais inesperado do teste?
Barnes: A percepção das pessoas sobre sua carga de trabalho que era menor durante o teste. Eu esperava que os níveis de estress caíssem e que o balanço entre vida pessoal e profissional melhorassem, mas não esperava que os funcionários pudessem gerenciar suas cargas de trabalho dentro dos quatro dias, ao invés de cinco.
InfoQ: InfoQ é uma comunidade que compartilha conhecimento e inovação para profissionais de desenvolvimento de software. Você vê abordagens como essa funcionando para esse tipo de indústria?
Barnes: Não vejo razão para não dar. A chave é sempre perguntar para os membros da equipe como podem colaborar, para que adotem a idéia, dar a eles as propriedades dos métodos e como serão introduzidos e monitorados.
InfoQ: Se alguém quiser aplicar esse teste, pode ser aplicado na empresa como um todo, ou você considera que seja mais factível em algumas áreas ou equipes que sejam parceiras?
Barnes: Minha sugestão é que você faça o que funciona pra você. Pelo menos uma de nossas equipes desistiu do teste. A chave é demonstrar que isso funciona e aplicar as lições aprendidas para todo o negócio.
InfoQ: O teste é notícia em muitos websites. Você tem planos concretos para um futuro próximo?
Barnes: Esse é apenas um pequeno movimento, que gerou reação internacional e doméstica para o teste. E estou ansioso para que conversas sobre flexibilidade no trabalho continuem. E a primeira coisa é implementar quatro dias trabalhados permanentemente na companhia e já estamos avaliando termos legais para viabilizar isso.
InfoQ: Quando ouvimos você falar sobre sua visão, isso parece ser muito maior do que mudar a maneira como sua empresa e seus funcionários se comportam. O que te deixaria feliz um prazo de três anos?
Barnes: Ver isso ou variantes disso adotadas na Nova Zelândia e globalmente. Isso é um bom caminho.
Além do trabalho que está sendo feito em sua companhia, Barnes está desafiando outros líderes a pensar diferente também. Segue alguns exemplos recentes:
Se você pode ter pais investindo mais tempo com seus filhos, como isso pode ser ruim? Você teria melhores resultados educacionais como consequência?
Você teria menos problemas de saúde mental quando você tem mais tempo para se cuidar e cuidar dos seus interesses pessoais, provavelmente? Se você tirar 20% de pessoas das estradas, o que isso significa?
Eu, portanto, estou desafiando todos os outros CEOs a iniciar seus testes. No pior cenário, ganha-se mais engajamento, comprometimento e força e trabalho energizada.