Usar o termo "transformação digital" limita a abordagem de mudança às técnicas tradicionais de gerenciamento linear, que são ineficazes ao lidar com a complexidade organizacional da atualidade. Precisamos nos concentrar em entender o contexto e o trabalho interno da organização para encontrar soluções sustentáveis e escaláveis para a mudança organizacional.
Alberta Soranzo, diretora de design de transformação do Lloyds Banking Group, fez a apresentação "Fit for Survival" no Agile Summit Greece 2019. A conferência foi realizada nos dias 19 e 20 de setembro em Atenas, na Grécia. O tema do Agile Summit 2019 foi "construir grandes equipes que podem mudar o mundo".
Segundo Soranzo, um dos maiores desafios das transformações digitais nas organizações está no rótulo que usamos. Para Soranzo, estamos bem além do ponto de nos concentrarmos na transição do analógico para o digital, tudo o que fazemos é possível digitalmente nos dias de hoje, porém o termo "transformação digital" nos dá permissão para analisar a entrega de "coisas digitais" como sendo transformadoras. "Quando definimos a transformação em uma forma mais pura como sendo uma mudança marcante, na natureza ou na aparência, é fácil entender por que apenas o foco em uma das muitas facetas do fornecimento de serviços é limitante".
As instituições e empresas nas quais operamos, as mesmas que pretendemos transformar, são sistemas de sistemas. Soranzo acredita que, por causa da linearidade, as técnicas tradicionais de gerenciamento são ineficazes para lidar com a complexidade inerente das organizações atuais.
Lidar com desafios transformacionais começa com a compreensão do contexto, da história, do fluxo e das necessidades. De acordo com Soranzo, só podemos realmente reconhecer necessidades e demandas quando tivermos uma visão completa do ambiente e do funcionamento interno da organização, e só então podemos começar a estruturar o problema realisticamente e começarmos a formular hipóteses sobre soluções que sejam sustentáveis e escaláveis.
Soranzo sugere superar os desafios das transformações digitais, ajudando as organizações a entenderem o próprio funcionamento antes de tudo, já que por mais surpreendente que pareça, a grande maioria das empresas não sabe realmente como funcionam os processos de ponta a ponta, apreciando totalmente os fatores ocultos da demanda e considerando o impacto das decisões sobre o sistema e os usuários.
O InfoQ entrevistou Alberta Soranzo sobre os desafios das transformações digitais, aplicando modelos modernos de gestão, gerenciando talentos nas organizações e projetando empresas capazes de se transformar e se adaptar às necessidades do mercado.
InfoQ: Quais são os desafios das transformações digitais nas organizações?
Alberta Soranzo: Apesar de todas as boas intenções, a maioria das iniciativas de transformação se concentra em algum tipo de atividade de otimização, melhorando a experiência do cliente, diminuindo a jornada digital ou aumentando a aceitação do autoatendimento digital, perdendo completamente a oportunidade de impulsionar a mudança.
No entanto, a gerência adora essas estratégias de otimização, porque levam a resultados positivos de curto prazo, e os resultados positivos dos negócios tendem a levar a uma recompensa tangível.
InfoQ: Como as organizações podem passar do uso de modelos de gerenciamento mais antigos para a aplicação de modelos mais modernos?
Soranzo: As organizações precisam aprender a confiar em seus verdadeiros especialistas, em vez de confiar no conhecimento padronizado fornecido pelos "especialistas em transformação", sejam internos ou externos. As organizações devem colher os conhecimentos profundos das pessoas que trabalham no sistema, começando com funcionários da linha de frente e seguindo para o topo.
Nos círculos de transformação, há muita conversa sobre empoderamento e disposição para experimentar, mas as organizações tendem a permanecer avessas ao risco e, portanto, não querem desviar-se dos métodos "testados e aprovados" que são baseados em condições e teorias genéricas, e não em circunstâncias específicas.
Os modelos modernos são apenas isso, frameworks genéricos, que devem, no entanto, ser usadas apenas como um modelo flexível para construir uma abordagem personalizada.
InfoQ: Qual o conselho para as empresas gerenciarem talentos nas organizações?
Soranzo: Se estamos falando de organizações que estão determinadas a se transformar, o gerenciamento de talentos é crucial. Devemos começar no topo, com uma liderança forte que define a direção e, em seguida, envolver-se com membros da equipe que são corajosos e talentosos e que possuem uma autonomia para aprender e que também se responsabilizam por transformar esse aprendizado em uma estratégia de entrega.
Combinar aptidões e habilidades individuais com metas de negócios e usuários, contratar uma força de trabalho diversificada e promover uma cultura de curiosidade e desafio respeitoso é, acredito, a chave para alcançar os resultados transformacionais. Na minha palestra, compartilhei um pouco sobre essa filosofia de gerenciamento de talentos e algumas das ferramentas que as organizações podem empregar para facilitar essa abordagem.
InfoQ: Como podemos projetar organizações capazes de se transformar e se adaptar às necessidades do mercado?
Soranzo: É um trabalho difícil e não tenho certeza se existe uma fórmula mágica definitiva. Também acho que há uma grande diferença entre projetar organizações a partir do zero e redesenhá-las, sendo esta última uma questão muito mais complexa. Em ambos os casos, no entanto, defendo uma abordagem sistêmica, começando com uma imagem clara de como as coisas funcionam e se encaixam nos bastidores, para entender o que é necessário e o que pode ser descartado com segurança, a fim de eliminar a complexidade desnecessária do sistema e reduzir as restrições que limitam a flexibilidade.