A Dra. Rashina Hoda, professora sênior de engenharia de software no departamento de Engenharia Elétrica, de Computadores e Software da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, ministrou no TEDx a palestra Nação Ágil: A resposta da Nova Zelândia ao terrorismo. Na palestra, refletiu sobre a resposta do país à ataques terroristas de 15 de março de 2019 e como essa resposta retratou os traços de agilidade em nível nacional e como isso poderia ser um exemplo para o resto do mundo na adoção de políticas humanísticas e na constituição de sociedades ágeis para enfrentar os desafios globais.
Hoda começou explicando os precedentes do desenvolvimento ágil como uma abordagem que fornece diretrizes para chegar a uma melhor solução mais rapidamente. Relatou os mais de 20 anos de história do desenvolvimento ágil na área de software e como as idéias estão se expandindo para áreas de negócios mais amplas.
Lembrou então o tiroteio que ocorreu na mesquita em Christchurch, Nova Zelândia, em 15 de março de 2019, no qual 51 pessoas foram mortas. Disse que a resposta do governo e da sociedade foi um exemplo dos valores da agilidade em uma escala verdadeiramente nacional. Explicou sua própria perspectiva como uma mulher kiwi, indiana e muçulmana, como se sentiu depois do evento e como a resposta da sociedade a cercava de forma esmagadoramente solidária e encorajadora.
Refletiu sobre a natureza VUCA do mundo e como as empresas aplicaram o pensamento ágil para responder a essa natureza do ecossistema de negócios, argumentando que foi a primeira vez que a sociedade neozelandesa realmente experimentou o verdadeiro impacto de muitas tendências globais.
Descreveu os elementos da VUCA como:
- Mensagens voláteis e armas violentas;
- Tecnologias incertas e antiéticas;
- Notícias complexas e falsas;
- Leis e protocolos ambíguos.
Sua pesquisa em equipes e organizações que adotam abordagens ágeis mostrou que, para obter os benefícios da abordagem e prosperar no mundo dos negócios da VUCA, as empresas precisam trazer atitudes e pensamentos ágeis de cima para baixo e de baixo para cima simultaneamente. Hoda ainda examinou o que isso significa para uma sociedade como um todo, e explicou como o governo e o povo da Nova Zelândia mostraram agilidade nas respostas aos eventos de 15 de março.
Além disso, apresentou uma visão do manifesto para o desenvolvimento ágil reafirmado para uma sociedade ágil.
Os quatro valores de uma sociedade ágil:
- Pessoas e interações são mais importantes que protocolos e regras;
- Colaboração comunitária acima da tomada de decisão fechada;
- Políticas e ações acima dos discursos e promessas;
- Respondendo à mudanças ao invés de seguir o status quo.
Deu exemplos emocionantes de como, no nível individual, comunitário e governamental, os neozelandeses exibiram esses valores em ação.
Explicou como a sociedade e o governo da Nova Zelândia desenvolveram as características de organizações ágeis (auto-organizadas e multifuncionais com líderes capacitados) e liderança ágil (centrada no ser humano e inclusiva) em resposta aos ataques.
Uma nação ágil exemplar diante de um dos nossos dias mais sombrios.
Hoda terminou sua palestra com um chamado à ação, para que todos no mundo apliquem valores ágeis nos níveis pessoais e sistêmicos, a fim de se tornarem nações e sociedades ágeis.
Quando tribos e liderança respondem rapidamente e com convicção, podemos ver a mudança. Pessoas de todo o mundo podem se auto-organizar em torno dos maiores desafios que o planeta enfrenta atualmente:
- Terrorismo e crimes de ódio contra todas as comunidades;
- Mudanças Climáticas;
- Pobreza;
- Desigualdade.
O InfoQ conversou com a Dra. Hoda e perguntou se existem lições específicas que a indústria de software deve tirar do tiroteio e suas consequências:
Usar valores ágeis para fornecer softwares melhores e mais rapidamente, é ótimo. Mas a necessidade agora é incorporar os principais valores humanos no software que projetamos e em como podemos usá-lo. O ágil para mim é totalmente voltado para pessoas. O software projetado por e para as pessoas deve, em última análise, beneficiar a sociedade e não deve ser fácil utilizá-lo de maneira inadequada para prejudicá-la. Assim como o médico, o engenheiro de software precisa ter um código de ética estrito e um foco claro nos valores humanos em todo o espectro das atividades principais. As instituições educacionais têm um grande papel a desempenhar nisso, assim como as empresas multinacionais de software.
A disseminação do discurso de ódio e do radicalismo usando ferramentas de software, é um dos fatores nas discussões sobre ética na engenharia de software, conforme evidenciado em alguns artigos recentes do InfoQ:
- O Código de Ética e Conduta Profissional da ACM, fala sobre a obrigação dos profissionais de computação de contribuir para o bem-estar humano e evitar danos;
- Discute-se sobre a necessidade do poder concedido aos profissionais de software, ser fundamentado em um código de conduta ética;
- Os maiores desenvolvedores no espaço da IA estão começando a enfrentar ativamente alguns dos danos reais causados por notícias falsas por meio de iniciativas como o Deepfake Detection Challenge.