As diferenças culturais são um desafio em um ambiente de trabalho internacional, mas, ao mesmo tempo, pode ser fascinante, disse Rachel Smets na Positive Psychology in Practice 2019, sugerindo que nos preparemos para trabalhar com outras culturas, ou nos mudarmos para o exterior, e desenvolvermos a sensibilidade cultural aprendendo o máximo que pudermos sobre elas.
Smets afirmou que entre as pessoas que entrevistou, incluindo muitos nômades digitais como ela mesma, a única coisa que todos mencionaram como ingrediente chave para uma mudança bem-sucedida foi "estar bem preparado". Ela sugeriu fazer uma pesquisa com antecedência:
Dependendo da situação atual, a pesquisa será baseada nos nossos objetivos, mas vamos supor que sejamos nômades digitais e capazes de trabalhar de qualquer lugar. Precisaremos decidir sobre o nosso novo destino, a casa ou outro alojamento para alugar ou comprar, a família que irá nos acompanhar ou que ficará para trás, as finanças, o novo idioma, mas também o visto e as documentações necessárias. Além disso, existem outros pontos, como animais de estimação, escolas, vacinas, seguros, assistência médica, etc.
Podemos aprender sobre uma nova cultura pesquisando e lendo sobre os hábitos, alimentos, festivais, idioma e história. Não precisa ser uma pesquisa complexa, apenas precisamos fazer algum esforço para nos informar:
Como trabalhadora digital, fazer negócios com muitas culturas diferentes e mostrar o conhecimento sobre certos costumes locais, demonstrará interesse na cultura, o que pode ser muito vantajoso para os negócios.
A psicologia positiva pode ser aplicada para ajudar as pessoas a se adaptarem ou a lidarem com uma cultura que é nova para elas. É realmente a solução para esta questão, disse Smets. A ciência tem tudo a ver com felicidade, otimismo, bem-estar, satisfação, fluxo e assim por diante. Na busca do "sentimento bom", isso também se relaciona às relações interpessoais com outras culturas.
Como estamos nos adaptando com as outras pessoas? Como estamos nos comunicando com os outros? Talvez usem um idioma diferente, mas há muito mais na comunicação do que isso, disse Smets. Na Holanda, as pessoas são muito diretas e podem parecer "rudes" na visão das pessoas de outro país onde a linguagem é mais indireta, e a mensagem deve ser entendida através de dicas como linguagem corporal, expressões faciais ou contato visual.
Smets deu o exemplo de como alguns asiáticos dizem "sim", que pode ter cinco significados diferentes: "sim", "talvez", "vou tentar", "não" e "não tenho certeza". Mencionou ainda o seu vídeo sobre prazos entre culturas (em inglês), que nos dá exemplos e soluções para a comunicação entre culturas.
A psicologia positiva também pode estar relacionada à "Regra de Ouro", como Smets explicou:
Estamos acostumados com a regra de ouro: "Trate os outros como gostaria de ser tratado", porém, quando se trata de diferenças culturais, a Regra de Ouro que é mais eficaz é "Trate os outros da maneira que eles querem ser tratados". Em essência, precisamos nos ajustar a eles, e a harmonia será criada.
"Trabalhar no exterior tem sido uma grande experiência em todos os países em que vivi", disse Smets. Ela mencionou que um dos desafios é a papelada, como todos os sistemas tributários, a conclusão do contrato de serviços públicos, contratos de trabalho, vistos, quando necessário, internet em casa, registros no novo país e a parte administrativa, são sempre um desafio, alguns países estão melhorando estes processos, outros ainda permanecem estagnados. Paciência e persistência são as chaves neste caso, disse Smets.
Rachel Smets, autora de Living Abroad Successfully, palestrou na Positive Psychology in Practice 2019 sobre como acabar com o choque cultural. O InfoQ a entrevistou depois da sua apresentação.
InfoQ: Na palestra, foi mencionado que a diversidade cultural pode ser realmente fascinante. Poderia nos dar alguns exemplos?
Rachel Smets: Absolutamente, amo observar outras culturas. Os diferentes hábitos, ou como as pessoas se vestem de maneira diferente, comem alimentos diferentes e têm suas refeições em horários diferentes. Na Holanda, as pessoas tendem a jantar por volta das 18h, enquanto na Espanha o jantar é entre 20h30 e 22h30.
Ao fazer negócios com outras culturas, cumprimentar é a primeira coisa que fazemos. É por isso que é importante cumprimentar da maneira correta e evitar um momento embaraçoso. Se estivermos nos encontrando pessoalmente, precisamos observar as pessoas ao redor. Se elas apertam as mãos, curvam, abraçam, beijam. Em seguida, podemos copiá-las.
Nos negócios, a maneira internacional mais comum de cumprimentar é apertar as mãos, mas nos países asiáticos isso pode ser diferente. É por isso que a observação e a pesquisa antecipada, uma pesquisa rápida no Google, pode nos ajudar.
Se estivermos fazendo negócios online, recomendo procurar algumas palavras para dizer "Olá" no idioma local do parceiro de negócios, colega ou cliente. Iremos notar o quanto apreciam o esforço.
InfoQ: Quais desafios enfrentou ao viajar para o exterior?
Smets: Viajar para o exterior traz desafios e também oportunidades. Quando viajo para diferentes países, estou sozinha, então os desafios comuns são, levar tudo sozinha e quando preciso usar o banheiro arrasto comigo a bagagem de mão, carrinho e jaqueta. Aprendi a viajar com pouca bagagem e a ser prática com o que carrego.
Viajando sozinha, recebo duas perguntas muito frequentes: sobre segurança e solidão. A segurança é resolvida escolhendo destinos, acomodações e locais seguros, é claro, nunca se sabe 100%. A solidão é um problema frequente para muitas pessoas, mas me concentro em todos os benefícios estar sozinha, como conhecer pessoas com mais facilidade, fazer o que quero, quando e onde quero. Aqui está um vídeo que diz tudo: os melhores motivos para se viajar sozinho.
InfoQ: Como as pessoas podem trabalhar com a sensibilidade cultural e melhorar a compreensão das diferenças e trabalhar com pessoas de diferentes culturas?
Smets: De acordo com pesquisas e estudos de especialistas como Hofstede, Hall e Trompenaars, existem principalmente duas categorias: culturas orientadas a relacionamentos e culturas orientadas a tarefas.
Culturas orientadas ao relacionamento se baseiam no vínculo entre diferentes funcionários e membros da empresa. Os objetivos e tarefas são realizados através de relacionamentos. Gastamos tempo construindo esse relacionamento antes de mergulhar nos negócios. Japão, África e Oriente Médio são exemplos destas culturas.
As culturas orientadas para tarefas, por outro lado, estão mais focadas na informação e na tecnologia necessárias para alcançar a máxima produtividade. Por exemplo, os Estados Unidos são uma cultura típica orientada a informações, na qual os negócios podem ser concluídos sem saber muito sobre a contraparte comercial.
Além disso, podemos conversar com alguém familiarizado com a vida e a mudança para o exterior. Iremos aprender muito com eles.
Se trabalhamos com outras culturas, recomendo que façamos um curso ou workshop sobre sensibilidade cultural. Costumo passar meio dia explicando as dimensões básicas da cultura, dando exemplos práticos em países específicos. Isso é suficiente para criar consciência cultural, tornar-se aberto ao novo e certamente acabar com o choque cultural.
Para resumir, ser culturalmente sensível não significa negar as diferenças, mas aceitá-las, reconhecê-las e apreciá-las.